Uma série exibida dentro de um programa de TV dominical
abordará a necessidade do desapego a pessoas. Sim, desapegar de pessoas, ou
melhor dizendo, terminar um relacionamento.
Seguindo essa mesma linha de pensamento, recentemente revi o
filme “Bitter Moon” (Lua de Fel), filme de Roman Polanski do ano de 1992 que
tem no elenco Hugh Grant, Emmanuelle Seigner e Peter Coyote. O filme é um drama
de um amor passional no qual a linda francesa Mimi, interpretada por
Emmanuelle, sofre humilhações de seu companheiro Oscar (Peter Coyote), mas
depois arquiteta uma vingança sórdida também repleta de abusos e humilhações.
Mimi não consegue desapegar de Oscar e a obra cinematográfica demonstra a tênue
linha que separa o amor e o ódio.
Até pouco tempo os relacionamentos que acabavam em casamento
eram feitos para durar e antes de 1977 eram indissolúveis no Brasil. Uma vez
casado não se podia deixar o casamento e o máximo que se podia fazer era pedir
desquite, no qual havia a separação dos corpos, dos bens, mas o casamento era
mantido.
A lei civil até a década de 70 carregava os preceitos morais
de nossa cultura cristã católica e as escolhas deveriam possuir critérios do
tipo: “antes de casar abra os olhos, depois é melhor fechá-los um pouco”. A
intenção era a tolerância, ou abrir espaço para a mesma resolver os problemas
conjugais porque esta era a única solução. Porém, essa minha reflexão é tentar
compreender quando alguém deixa de amar o outro e busca o desapego. Será que
as escolhas atuais são mais insensatas e irresponsáveis que de antigamente?
Será que a facilidade para o desapego civil do casamento não o tenha
transformado na celebração da paixão ao invés do amor? A paixão como sentimento
platônico surge pela falta da posse do ser amado, fazendo amar o que não se
tem. Porém, uma vez conseguido o objeto do desejo cessa o amor e surge a
necessidade de uma nova conquista. São os amores de alta rotatividade.
É bem verdade que o desapego é mais deletério para a mulher,
quando esta sofre o abandono de quem ama e a situação torna-se mais crítica com
o avançar da idade. Assim, por mais que possa parecer um pensamento sexista e
machista, o avanço (ou seria retrocesso?) na legislação civil é tão somente para
garantir o apoio material e afetivo dos filhos, mas para os cônjuges, esses que
se virem para suprir suas carências. O homem se resolve mais facilmente e até
arrisco dizer que a situação é mais confortável quando esse decide desapegar-se,
pelo simples fato que o hormônio masculino nos protege melhor do
envelhecimento, enquanto que a mulher sofre com a perda acelerada do “viço”
após os quarenta anos. Não é preciso ir muito longe para demonstrar isso, basta
observar as grandes atrizes de cinema, como é caso da própria Emmanuelle
Seigner, hoje com quarenta nove anos e compará-la com o Hugh Grant (55 anos) e
ver que o mesmo segue tirando suspiros de moiçolas, enquanto que Emnanuelle,
mesmo em seu último filme (A Pele de Vênus, também dirigido por Polanski) é
apenas a sombra da femme fatale que
foi aos vinte e seis anos. Atores são mais longevos em papeis de galã.
Sabemos que o amor é diferente de paixão e felizmente a
filosofia nos apresenta mediações entre a paixão platônica e o amor
Aristotélico no qual se busca amar o que se tem, fugindo-se das paixões. Porém,
o amor Kairós (Cristão) é mais forte e incondicional, pois se deve amar o
próximo como a si mesmo e isto por si só já resolveria todos os conflitos.
Cristo disse aos fariseus que a dureza dos corações dos homens era a responsável
pelo divórcio.
Assim, o desapego inicia quando endurecemos os nossos
corações, seja porque nos entregamos às novas paixões, porque simplesmente
deixamos de amar o que conquistamos, ou porque não nos colocamos no lugar do
outro.
João Lago
Administrador, professor e morador do Conjunto Santos Dumont
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