Quando há o diagnóstico de
neoplasia dois tratamentos são indicados para cessar o crescimento desordenado
do tecido cancerígeno: radioterapia e quimioterapia. Ambos são complementares,
pois enquanto a quimioterapia age no corpo inteiro, buscando evitar a metástase,
a radioterapia é direcionada para atuar diretamente onde está localizado o
câncer. Porém, a quimioterapia, além de brecar o crescimento do câncer, concomitantemente
age impedindo a renovação celular natural do corpo humano. Assim, as unhas e os
cabelos param de crescer e caem, a pele não se renova, o corpo inteiro entra em
letargia e são tão deletérios os efeitos colaterais do tratamento que o remédio
pode, em alguns casos, antes mesmo de chegar à cura, levar a morte o paciente. A
medicina, para o tratamento do câncer com melhor eficácia, busca encontrar uma
solução de medicação que possa atuar tão somente nos tecidos cancerígenos,
deixando as demais funções naturais de duplicação celular do corpo humano
preservadas.
O Brasil, da grave crise de governança que o
deixou doente, é acometido pelo câncer severo da corrupção que se alojou na
cúpula do governo federal e de sua base aliada, mas com severas metástases nos
governos estaduais e municipais. Neste sentido, o procurador da república
Deltan Dallagnol, um dos responsáveis pela condução do processo da operação lava-jato,
em recente palestra em São Paulo, afirmou que o Brasil perde em torno de R$ 200
bilhões por ano com a corrupção, ou seja, dinheiro suficiente para cobrir o
déficit fiscal de R$ 30,5 bilhões anunciado pelo ministro Joaquim Levy para
2016 e ainda sobrariam 6,5 a mais do que pretende o governo Dilma arrecadar com
a volta da CPMF. Tudo se resolveria se
esses que nos governam e que nos representam no legislativo resolvessem ser
intolerantes com a roubalheira e decidissem que ser um político honesto vale a
pena. Basta que eles parem de roubar ou de acoitar ladrões!
No entanto, o governo Dilma, ao invés
de direcionar um tratamento efetivo exatamente no local onde se concentra o
câncer, submete o Brasil a uma quimioterapia econômica muito além da capacidade
do corpo do paciente aguentar. O Brasil parou de crescer e os índices de
empregabilidade e da atividade industrial caem como cabelos da cabeça e a
arrecadação enfraqueceu como as unhas das mãos demonstrando que o paciente está
no ápice dos efeitos colaterais. Os juros altos não controlam mais a inflação,
mas servem para aumentar a dívida pública colocando o Brasil na rota do capital
especulativo, ou mais precisamente, pelo risco que se tem hoje em investir no
Brasil a tendência é que se aporte por aqui somente quem busque ganhos de curto
prazo. Esse tipo de capital não cria raízes e a experiência demonstra que há a
tendência de criar-se dependência dele, com a necessidade crescente do governo
alimentar-se de capital especulativo para rolar sua dívida. Esse clima de
insegurança faz com que o dólar dispare como estamos vendo acontecer nesses
últimos dias, pois em momentos de crise a segurança está em acumular moeda
forte como ultima reserva de valor.
Logicamente, assim como seguir
uma medicação passa pela confiança no médico que a receitou, a maioria da sociedade
brasileira não confia na capacidade de Joaquim Levy em conduzir a saída da
crise, muito menos na possibilidade que Dilma tenha credibilidade moral para
conter a corrupção no seio do governo federal. As idas e vindas nos anúncios de
criação de novos impostos e a relutância do governo sair da retórica e anunciar
verdadeiramente um corte de gastos que demonstre vontade de reduzir o inchaço produzido
por trinta e nove ministérios, apenas revela que a Dilma está atolada em sua própria
incompetência política.
Talvez o Brasil demore a
reconhecer a origem de seu câncer, mas já é um começo de tratamento radioterápico
a possibilidade latente de novamente as forças democráticas retirarem do poder
um governo envolvido em corrupção, pois ao não nos posicionarmos como agentes
da cura, nós demonstramos pertencer ao mesmo tecido da doença. O segredo da saída
da crise tem que passar pela tolerância zero com a corrupção.
João Lago
Administrador, professor e morador do Conjunto Santos Dumont
Nenhum comentário:
Postar um comentário