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domingo, 19 de julho de 2015

Quem são os nossos heróis?

A origem da palavra herói no português tem derivação do latim heros, mas anterior ao latim a etimologia da palavra tem origem no grego antigo em sua grafia peculiar que não se reproduz em nosso alfabeto. Para a antiga civilização grega politeísta faltava a figura intermediária que distinguisse o deus e o homem extraordinário, chamado semideus, conforme tradução de Mary Lafer para “os trabalhos e os dias” (versos 156-160) da obra de  Hesíodo(1). Por outro lado, ainda pequenos somos convidados a conhecer os super-heróis das revistas em quadrinhos, das telas da televisão e do cinema, geralmente homens comuns que recebem superpoderes e passam a combater o mal. Nossa visão lúdica infantil do termo herói é hoje uma fonte de comércio extraordinária, quais somente os dez super-heróis retratados nas telas do cinema juntos faturaram U$ 5,45 bilhões (dólares), conforme reportagem publicada na Revista Exame(2).

 Seja por meio da literatura grega ou da construção mental infantil, os heróis estão ligados a grandes feitos voltados para o bem comum e são admirados por isto. Porém, saindo da meninice, quando questionado o herói de um indivíduo a resposta mais comum situa-se em dois pontos: os pais ou Jesus Cristo. Assim, mesmo não gostando do termo, é “politicamente correto” e pouco comprometedor situar a resposta nesses arquétipos. No entanto, convido você a sair da resposta pronta e imaginar quem seria o seu herói. Não tenha pressa em responder!

A banalização do termo herói é o que mais me preocupa, pois pode traduzir em um claro sintoma de uma sociedade que perde os seus valores, já que para ser eleito ao panteão dos heróis tão somente basta a fama, devidamente apartada das virtudes. O roqueiro Cazuza, por exemplo, em sua música Ideologia cantou que “os meus (dele) heróis morreram de overdose”, pois foram tantas vidas ceifadas prematuramente como Jimi Hendrix, Janis Joplin, Jim Morrison etc., que se tornaram ícones de um estilo de vida que ainda hoje conduz os jovens a uma morte precoce. Para não ficar somente com Cazuza, o ex-repórter e dublê de apresentador Pedro Bial chamou os enclausurados do Big Brother Brasil – BBB de “nossos (dele) heróis”. Poderia ficar somente nesses dois casos, mas recentemente uma jornalista esportiva, do canal televisivo Sport TV, referindo-se a transferência do jogador peruano Guerrero para um clube carioca, o consagrou como sendo o “herói (dela)” das torcidas do Corinthians e do Flamengo. É bom que se diga que mesmo não sendo simpatizante dessas agremiações fiquei consternado e lamentei que as duas mais numerosas torcidas do Brasil tenha para si um herói que foge da concentração em plena Copa América para curtir uma balada.

Não tenho a pretensão que ao finalizar este texto você tenha conseguido eleger um herói para si, mesmo porque herói bom é aquele já morto, o qual não sobra mais oportunidade para decepcionar. Eu mesmo não me arrisco em sair do lugar comum e eleger Cristo como o meu herói, mas posso acrescentar o meu avô João Pinheiro, que na ausência de meu pai soube mostrar-me os valores preciosos que até hoje me acompanham. Herói é assim, mesmo em um microcosmo individual e pessoal, deixa um legado virtuoso para a posteridade.

João Lago.

Notas:
(1) Hesíodo. Os trabalhos e os dias, parte I, 3ª. ed., tradução de Mary de Camargo Neves Lafer. São Paulo: Iluminuras, 1996.;
(2)    Revista Exame, Editora Abril, edição 995 de 26.6.2011.

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