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sábado, 4 de junho de 2011

Opinião: Cidades que estão morrendo


Na última semana de janeiro a revista Newsweek listou algumas cidades nos EUA que estariam morrendo, dentre elas a pequena cidade de Grand Rapids, que tem uma população de pouco menos de 200 mil habitantes, localizada no estado de Michigan. O motivo porque estaria moribunda seria o declínio populacional, principalmente pela diminuição dos jovens abaixo de 18 anos, cuja taxa é de 24% da população residente, seguindo agonizante em decorrência do arrefecimento da economia dos EUA a partir da segunda metade da década de 2000.

Obviamente os moradores de Grand Rapids não ficaram nada satisfeitos com essa classificação e resolveram protestar de uma maneira muito original, por meio de um vídeo, muito bem produzido e patrocinado por empresas locais, filmado sem cortes no qual moradores cantam nas ruas da cidade a canção American Pie, de Don McLean, cujo refrão final diz: “Cantando, este será o dia que eu morrerei”. O vídeo foi publicado no YouTube e é um sucesso de exibição.

Talvez você esteja se perguntando porque eu resolvi escrever sobre algo que pouco diz respeito a nós brazucas, sabendo que pouco me inspiro com fatos alienígenas que não tenham uma ligação direta com nossa realidade. No entanto, durante toda a exibição do vídeo, que tem dez minutos, esteticamente não pude perceber algo que denotasse que a cidade estivesse morrendo, mas um detalhe insignificante conseguiu chamar muito minha atenção: durante toda a tomada do vídeo, na qual é feito um passeio pelas ruas da cidade, não se via um único poste ou fio de energia elétrica.

A cidade de Manaus, apesar de ser um centro turístico que recebe visitantes do mundo inteiro, e possuir uma beleza arquitetônica datada da segunda metade do século XIX, infelizmente não pode ser fotografada sem os inconvenientes, abusivos e invasivos postes e fios de alta e baixa tensão. Nem mesmo as mais bem produzidas fotos, como as que vemos abaixo, conseguem disfarçar essa poluição visual que está presente defronte quase todo prédio, ou monumento, de elevado conteúdo histórico e arquitetônico.

No entanto, a grande diferença que separa Manaus de Grand Rapids não se resume somente na localização geográfica, ou na ausência de poluição visual, ou mesmo no contingente populacional (Manaus tenha quase 2 milhões de habitantes). Observo que a grande diferença não está na ausência ou abundância quantitativa de uma coisa ou outra, mas reside fundamentalmente em diferenças qualitativas, cujo exemplo emblemático está centrado na capacidade da população indignar-se e sair as ruas e protestar, mesmo que seja por meio de um revide fútil, mas inteligente e bem humorado. Enquanto isso, Manaus que possui fatos de maior gravidade que mereciam nossa indignação, como: a falta de saneamento básico em 95% da cidade, sujeira nas ruas, ocupação de barracas de camelô em cada canto possível de ruas e calçadas, das invasões e “favelização” de áreas verdes, trânsito caótico, poluição dos igarapés, baixos índices de qualidade educacional etc., timidamente fica recolhida em uma espécie de cegueira urbana, permanentemente embaçada por uma teia de fios de ignorância e corrupção.

Enquanto não somos mordidos em nossos brios por fatores de maior gravidade como os listados acima, fico imaginando qual tipo de canção poderíamos cantar nas ruas contra os fios de energia elétrica estendidos nas fachadas. Não me vem nenhuma idéia, mas quem sabe você poderia ajudar-me, levando em consideração que 25% de nossa conta de energia elétrica é para pagamento de imposto.

Fica aqui o desafio.

João Lago
Administrador, professor e morador do Cj. Santos Dumont

Veja o vídeo de Grand Rapids



FOTOS DE FIOS ELÉTRICOS NAS FACHADAS DE MANAUS





Um comentário:

  1. Ranulfo de Sertãozinho-SP sugeriu como trilha sonora: Que país é esse (Legião Urbana)

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