Nesse último dia 20/12 (sábado), mesmo sob uma chuva copiosa, comum nesta época do ano em Manaus, distribuímos 124 cestas de alimentos na comunidade de Nossa Senhora das Vitórias, localizada no Bairro Santa Inês II, Zona Leste de Manaus. A região é uma invasão ocorrida em áreas de expansão da Suframa, um local originalmente destinado a abrigar fábricas do Polo Industrial de Manaus e que fica quase no limite entre a área urbana e a floresta. Justamente por ter a característica de ser um local íngreme, carente de asfalto, saneamento básico e de serviço de transporte urbano, foi durante esses quatro anos de campanha o local escolhido para a distribuição de alimentos. Somente para compreensão da rusticidade que os moradores enfrentam, linhas de ônibus não circulam no bairro, obrigando os moradores, em alguns casos, percorrer mais de meio quilômetro à pé para pegar uma condução, sendo que em dias chuvosos enfrentam ainda a lama nos pés.
Conforme combinado no dia da entrega dos vouchers (08/12), chegamos às 10h em ponto para iniciar a distribuição. Neste ano optamos por contratar o serviço de montagem das cestas, no padrão que estabelecemos nesses anos todos (14 itens) por meio de uma parceria que fizemos com o Supermercados Rodrigues, que nos vendeu os produtos e encarregou-se também da armazenagem. Esse planejamento logístico foi essencial justamente pela quantidade de cestas arrecadadas neste ano (234 famílias) que totalizou pouco mais de duas toneladas de produtos. Essa quantidade está acima de nosso espaço que abrigou as cestas em todos esses anos, então foi necessário buscarmos alternativas para resolver o problema. Aliás, digamos que se tratou de um “problema” abençoado, porque em nossas expectativas mais otimistas não imaginamos poder arrecadar tantos alimentos.
Neste ano também, graça a generosidade de tantos amigos e amigos, foi possível dividir esta ação de solidariedade em duas comunidades. No 13/12 viajamos até o Lago do Soares, um localidade localizada na região de influência do município de Altazes, que fica a aproximadamente 108 km de Manaus por via terrestre (via AM-254, que tem cerca de 94 km), mas a viagem de barco ou lancha, que leva de 3h30 a quase 5 horas, a depender do tipo de barco escolhido. No entanto, o nosso destino estava um pouco mais além. Tanto que fomos no sábado e retornamos no domingo (14/12) justamente pela dificuldade de acesso, horário de balsas na cabeceira dos rios e, logicamente a estrada muito castigada e cheia de buracos. No linguajar logístico diríamos que se tratou de uma entrega bimodal (via terrestre e fluvial), portanto com certa complexidade. Dois dias antes (11/12) retiramos as 110 cestas que se juntaram a mais 70 de responsabilidade do Serviço Amazônico de Ação, Reflexão e Educação Socioambiental (Sares), totalizando 180 famílias, por meio de seu diretor Pe. Silvio Marques que disponibilizou todo o apoio logístico de transporte até a Aldeia Mura no Lago do Soares. Aliás, a sugestão de realizarmos o complemento desta nossa ação solidária partiu justamente de padre Sílvio em que prontamente aceitamos o desafio. Nossa maior dificuldade é justamente o transporte das cestas em barcos pequenos (chamados de voadeiras na gíria amazônica), que são mais velozes, mas que tem pouca capacidade de carga. Desta forma, forma divididas as 180 cestas em duas remessas, uma ocorrida no dia 11/12, na qual padre Silvio levou 100 cestas no dia 11/12, deixando as demais para serem transportadas nos dias seguintes.
No sábado, dia 13/12, iniciamos nosso percurso às 5h da manhã da sede do Sares até o Porto da Ceasa (vinte minutos de carro), pois nossa intenção era pegar a balsa que sai às 6h da manhã. A travessia de balsa que dura cerca de 60 minutos até a ponto de desembarque no Careiro da Várzea. Em seguida mais 120 km de estrada até o outro ponto de embarque, na Boca da Estrada de Altazes / Careiro da Várzea. Chegamos no local às 10h30 e ficamos aguardando a chegada das duas “voadeiras” que nos levariam até o Lago do Soares onde está localizada a Aldeia Mura. A viagem durou quase duas horas e desembarcamos as cestas e começamos a distribuição das cestas pouco depois das 13h.
Aproveitamos o dia para conhecer a comunidade e vivenciar o que é estar tão distante de uma área urbana, apesar da região estar cercada de fazendas de criação de gado, a principal atividade econômica do Município de Altazes. Não somente isso, a terra indígena Mura está assentada em uma jazida de potássio que tem aumentado a pressão para ocupação da área pela exploração mineral por meio da Potássio do Brasil, uma subsidiária da Brazil Potash.Segundo o Ministério Público Federal, a mineração de potássio na região da Aldeia Soares (território do povo Mura que ainda aguarda demarcação) foi autorizada por licenças emitidas pelo Instituto de Proteção Ambiental do Estado do Amazonas (Ipaam), apesar dos inúmeros problemas verificados nos estudos de impacto ambiental e no processo de licenciamento e dos questionamentos judiciais. Em conversa que tivemos com o líder Mura, o Tuxaua Gabriel Mura, as principais ameaças é a contaminação dos rios por meio de rejeitos provenientes da mineração e da contaminação do solo por sal, haja vista que o subproduto da mineração de potássio é cloreto de sódio (sal de rocha ou sal comum) e outros como sais de magnésio e, em alguns processos específicos, até o lítio. O problema apontado por Gabriel Mura é que o sal tem previsão de ser armazenado em céu aberto, portanto sujeito a ser levado pelos ventos e pelas chuvas da região, salgando a terra e iniciando um processo de desertificação, além de contaminação dos rios da região.
Conforme pesquisa que realizamos, a Brazil Potash pertence a vários grupos de investimento, sendo o principal o CD Capital, com sede em Londres – Reino Unido e o Forbes Manhattan com sede em Toronto – Canadá. O investidor principal envolvido na exploração do potássio em Altazes é o canadense Stan Bharti da Forbes Manhattan que investe em vários projetos de mineração no mundo. O maior problema da mineração é justamente a degradação ambiental e o pouco retorno em desenvolvimento social e humano. Segundo o Relatório de Impacto Ambiental – RIMA, apesentado pela Potássio do Brasil, a mina de potássio tem previsão de exaustão em 30 anos, ou seja, em metade de uma geração toda a riqueza será exaurida do subsolo e muito provavelmente as comunidades ao redor em muito pouco serão beneficiadas em qualidade de vida. Os financistas que estão bancando a mineração são investidores que desejam maximizar o retorno do capital investido, sendo, portanto, os principais beneficiários dos lucros e dividendos da exploração. Em segundo plano são os impostos que serão arrecadados e que teoricamente deveriam retornar a população em termos de serviços públicos, como saúde, educação, lazer, segurança etc. O problema é que essas promessas de melhoria de qualidade de vida não se concretizam e a parte que caberia a população é desviada por governantes locais corruptos. Vejamos o exemplo da exploração de gás e petróleo em Coari, na região do médio Solimões no Amazonas, às margens do Rio Urucu, em 37 anos de operação trouxe benefícios pífios em bem estar e qualidade de vida da população em Coari. Na verdade, conforme estudo desenvolvido pela pesquisadora Rejane Viana, em sua dissertação de mestrado em Direito Ambiental pela Universidade do Estado do Amazonas – UEA, os royalties do petróleo pouco, ou quase nada, beneficiaram a população local, vejamos alguns indicadores apontados em sua pesquisa:
No período de 1991 2000, o Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M) de Coari cresceu de 0,542 em 1991, para 0,627 em 2000, crescimento esse que segundo o Atlas de Desenvolvimento Humano, se o município de Coari mantivesse essa taxa de crescimento do IDH-M de 2000, data do último censo do IBGE, levaria 22,7 anos para alcançar São Caetano do Sul-SP, o município com o melhor IDH-M do Brasil (0,919);
A renda per capita de Coari passou de R$ 75,06 em 1991 para R$ 81,17 em 2000, porém bem abaixo das rendas das cidades de Anori (R$ 91,12) e Anamã (R$ 96,83), outras duas cidades também da região do Rio Solimões;
O indicador de porcentagem de pobreza da população de Coari (71,46% em 2000), apesar de haver apresentado melhora desde 1991 (74,94%), ainda é superior a Anori (64,11%) e Anamã (69,36%), cidades essas que não se valem dos royalties do petróleo.
Poderíamos continuar descrevendo os péssimos indicadores de Coari, mas o que pode ser mais emblemático nesta tragédia humana e econômica é justamente o envolvimento de governantes da cidade em corrupção e exploração sexual de menores. No entanto, a mesma família envolvida nesses escândalos continuam governando a cidade, isso levando a crer que os royalties de petróleo foram utilizados como forma de manutenção da casta política que se apoderou do benefícios financeiros da exploração de gás e petróleo.
A região de Altazes tem todo o potencial de repetir Coari, mas como menor tempo de maturação, já que a exploração de gás em Coari completou 39 anos e a Petrobras prevê a perfuração de 22 novos poços em 2026, após a conclusão de estudos e licenciamento ambiental. Não obstante, o Ministério Público Federa - MPF já vem apontando os graves riscos para a região, uma vez que o projeto prevê a perfuração do solo, com a abertura de grandes túneis em profundidade, remoção de vegetação nativa, captação da água de rios e outras intervenções ambientais sem que todos os estudos tenham sido realizados da forma adequada. O que se projeta na Região do Lago do Soares em Altazes é mais nefasto que Coari, já que a retirada de potássio do solo no Lago do Soares tem um potencial de degradação muito superior daquela que é realizada na margem do Rio Urucu.
Finalizamos novamente agradecendo a todos os amigos e amigas que ajudaram financeiramente nesta campanha de solidariedade e que estão em nossa relação de beneméritos, agradecendo inclusive aqueles que contribuíram com seu apoio material e pessoal, como nossas irmãs Sida, Rosilda, Luíza e Nádia, que tanto nos ajudaram na entrega dos vouchers como na distribuição das cestas na comunidade. Agradecer João Alfredo Jatobá do Lago e a Gabriel Nicolau pelo apoio neste ano e anos anteriores desta campanha. Agradecer ao Pe. Lawrence Savarimuthu que nesses anos cede o espaço da Igreja de Nossa Senhora das Vitórias como local de apoio para distribuição das cestas, assim como agradecer a nossa irmã Izany Alves, que também nos ajudou na distribuição das cestas no dia 20/12, bem como, por meio de seu irmão Givanildo Alves, nos forneceu um caminhão para transportar as cestas até a Zona Leste de Manaus. Agradecer o Sr. Caio Dutra e ao Sr. Francisco Rodrigues na parceria da montagem das cestas e na armazenagem até o dia efetivo de cada entrega. Gostaríamos de agradecer também ao Pe. Sílvio Marques Sousa Santos, SJ e Pe. Silas Moesio Maciel da Silva, SJ e toda a equipe do SARES que direta e indiretamente nos ajudaram na entrega das cestas a comunidade indígena Mura, assim como nosso agradecimento a sua liderança, o tuxaua Gabriel Mura e aos demais membros da aldeia que ajudaram no transporte das cestas até o local da entrega.
Um Feliz Natal e um ano novo repleto de realizações.
Referências
https://www.linkedin.com/feed/update/urn:li:activity:7207041724265701377/
https://pos.uea.edu.br/data/direitoambiental/dissertacao/7-4.pdf
RELAÇÃO DE DOADORES
| Doação de: | Valor | Data | |||
| 1 | Maria de Lourdes A. de Souza – RPE AM | 100,00 | 26/10/25 | ||
| 2 | Helio Oliveira – Carazinho RS | 300,00 | 26/10/25 | ||
| 3 | Pedro Afonso B. Carvalho – Manaus AM | 20,00 | 26/10/25 | ||
| 4 | Maria Helena Sato – São Paulo SP | 100,00 | 26/10/25 | ||
| 5 | Doador anônimo – Nsra. Das Graças | 500,00 | 26/10/25 | ||
| 6 | Mozart J, Arantes – Funepp SP | 150,00 | 26/10/25 | ||
| 7 | Paulo D. Elia – Funepp SP | 100,00 | 26/10/25 | ||
| 8 | Francisco Carlos Giangrossi – Funepp SP | 75,00 | 26/10/25 | ||
| 9 | Antonio Paulo Marques – Funepp SP | 150,00 | 26/10/25 | ||
| 10 | Rosangela Gorni – Funepp SP | 150,00 | 26/10/25 | ||
| 11 | Meire Cibele V. Rodrigues – Funepp SP | 150,00 | 26/10/25 | ||
| 12 | Paulo Vicente Brianti – Funepp SP | 150,00 | 27/10/25 | ||
| 13 | Eduardo Borges Teixeira – Funepp / SP | 150,00 | 29/10/25 | ||
| 14 | Izabel de Paiva Frazão – Funepp SP | 50,00 | 31/10/25 | ||
| 15 | Cátia Regina F. Begnami – Funepp SP | 75,00 | 01/11/25 | ||
| 16 | Dra. Paula Rebello – Manaus AM | 200,00 | 01/11/25 | ||
| 17 | Doador anônimo – Filipinas | 1.000,00 | 02/11/25 | ||
| 18 | Márcia Picanço – Manaus AM | 200,00 | 02/11/25 | ||
| 19 | Nêga Waughan – Manaus AM | 30,00 | 02/11/25 | ||
| 20 | Ranulfo Costa – Ribeirão Preto SP | 150,00 | 03/11/25 | ||
| 21 | Eliana Freitas – Manaus AM | 100,00 | 04/11/25 | ||
| 22 | Doador(a) Anônimo(a) – RPE | 200,00 | 04/11/25 | ||
| 23 | Rodrigo Júnior Duarte Farias – Manaus AM | 200,00 | 05/11/25 | ||
| 24 | Michel Secaf Adde – São Paulo SP | 150,00 | 05/11/25 | ||
| 25 | Etelvina Pinheiro do Lago – Manaus AM | 100,00 | 05/11/25 | ||
| 26 | Hans-Ulrich & Terese Auer – Suiça | 330,00 | 06/11/25 | ||
| 27 | Willy & Maria das Graças Amstutz – Suiça | 1.330,00 | 06/11/25 | ||
| 28 | Christina & Thomas Degen – Suiça | 660,00 | 06/11/25 | ||
| 29 | Dieter Gigelmann – Suiça | 166,00 | 06/11/25 | ||
| 30 | Irmgard Bösch – Suiça | 166,00 | 06/11/25 | ||
| 31 | Nicole Mattenberg – Suiça | 133,00 | 06/11/25 | ||
| 32 | Erich & Christel Ritter – Suiça | 133,00 | 06/11/25 | ||
| 34 | InteQRA & Fanília Bissig – Suiça | 1.330,00 | 06/11/25 | ||
| 35 | Eveline Krummenacher – Suiça | 660,00 | 06/11/25 | ||
| 36 | Ruth Nägeli – Suiça | 399,00 | 06/11/25 | ||
| 37 | Antônio Carlos Polesel Pizzell – Manaus AM | 75,00 | 09/11/25 | ||
| 39 | João Pedro Argueso – Belo Horizonte MG | 100,00 | 10/11/25 | ||
| 40 | João Lima do Nascimento – Manaus AM | 150,00 | 10/11/25 | ||
| 41 | Guilherme Oliveira Reis – Manaus AM | 100,00 | 10/11/25 | ||
| 42 | Gleison Furiel da Silva – Manaus AM | 150,00 | 11/11/25 | ||
| 43 | Stephan Müller / Veltheim – Suiça | 198,00 | 13/11/25 | ||
| 44 | Silvia Koller / Luzern – Suiça | 264,00 | 13/11/25 | ||
| 45 | Claudio & Maianne Bearth / Zug – Suiça | 1.980,00 | 13/11/25 | ||
| 46 | Oliver & Vesna Conzelmann / Sarnen – Suiça | 660,00 | 13/11/25 | ||
| 47 | Doador(a) Anônimo(a) – Manaus AM | 500,00 | 14/11/25 | ||
| 48 | Fábio Pena – Manaus AM | 100,00 | 15/11/25 | ||
| 49 | Maressa Caiado – Manaus AM | 100,00 | 15/11/25 | ||
| 50 | Jefferson Carlos – Manaus AM | 150,00 | 15/11/25 | ||
| 51 | Weslley Costa – Belo Horizonte MG | 150,00 | 15/11/25 | ||
| 52 | Uschi Wipf – Suíça | 133,00 | 21/11/25 | ||
| 53 | Pia Caso – Suíça | 660,00 | 21/11/25 | ||
| 54 | Denis Thaumaturgo Siqueira – Manaus AM | 400,00 | 23/11/25 | ||
| 55 | Andrea Lucia S Ferreira – Manaus AM | 150,00 | 25/11/25 | ||
| 56 | Diego Lago – Rio de Janeiro RJ | 190,00 | 27/11/25 | ||
| 57 | Doador(a) Anônimo(a) – Manaus AM | 500,00 | 01/12/25 | ||
| 58 | Abel Rodrigues Alves – Manaus AM | 100,00 | 01/12/25 | ||
| 59 | L. M. P Doação anônima – Manaus AM | 100,00 | 12/12/25 | ||
| 60 | Cláucio Santos – Belo Horizonte MG | 200,00 | 19/12/25 | ||
| A | Arrecadado em dinheiro até | 24/12/25 | 16.967,00 | ||
| Subtotal de cestas doadas ( C / D ) | 229 | META | |||
| D | Cestas completas doadas(*) | 5 | 160 | ||
| E | TOTAL DE CESTA DOADAS 2025 | 234 | 146% | ||
| F | Valor da cesta: médio | 72,51 | da meta | ||
| (*) Supermercado Rodrigues | Qte. Itens | ||||
| G | 0 | ||||
| VALOR TOTAL DAS DOAÇÕES ( C + G ) | 16.967,00 | ||||
| Peso da entrega: | 2070,9 | kg | |||





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