Quando somos
crianças, e temos a felicidade de crescermos em uma família
numerosa, nossos primeiros contatos sociais são com os nossos irmãos
e irmãs. É por meio deles que aprendemos a repartir, negociar
conflitos, muitas vezes transigir, algumas vezes (não assim tão
raras) até as vias de fato. Éramos crianças e as nossas desavenças
eram tão pesadas e duradouras quanto uma bolha de sabão e nada
poderia ser tão sério que pudesse superar a necessidade de
novamente estarmos juntos brincando e nos divertindo.
Crescemos e
paulatinamente percebemos que a vida não é somente uma grande
diversão. As cobranças vão ficando cada vez mais severas conforme
vamos ganhando entendimento e, pouco a pouco, vamos retirando a capa
de super-herói, as tiaras de princesa e, não sabemos bem quando,
vestimos a máscara da responsabilidade. Daí, quando colocarmos os
nossos pés para fora de casa, já não nos estapeamos mais, mas
também já não brincamos tanto.
Quando nos tornamos
adolescentes, o mundo floresce em tantas amizades que a nossa casa se
transforma em lugar de acolhimento, festas de aniversários,
confraternizações e do mesmo modo que recebemos, peregrinamos por
outros lares e conhecemos outras famílias. A infância e a
adolescência daqueles quatro irmãos da Rua Visconde de Porto Alegre
446 não fugiu a regra, mas com uma diferença. Havia uma menina que
parecia não acreditar nessa obrigação de ser gente grande e, para
nossa felicidade, tornou-se essa eterna criança de espírito alegre
e amizades platônicas que tenho certeza que cada um de vocês, que
teve a felicidade de conhecer Etelma, há de lembrar.
Etelma também foi
mãe e como não poderia deixar de ser, tornou-se técnica,
preparadora física, nutricionista, líder de torcida de seu único
filho Diego Augusto que colecionava medalhas de natação. Mudaram-se
para o Rio de Janeiro para que Diego pudesse competir em piscinas que
tivessem competidores mais parelhos a sua competência. No Rio de
Janeiro construiu novas amizades e encaminhou uma vida de
responsabilidades e trabalho, igual como muitos daqueles que saem de
sua terra natal. O irmão Júnior casou, o mano Kleber também, ambos
foram morar em outras cidades e o Pinheiro Neto constituiu família
aqui mesmo em Manaus. Em dado momento da vida cada um dos quatro
irmãos da Visconde de Porto
Alegre morava em uma cidade diferente.
A mãe Etelvina
sempre foi para os quatro irmãos o ponto de convergência, como é
bastante comum em outras famílias que tem a casa dos pais sempre
como um lugar de destino. A vida une, as contingências separam,
aprendemos a conviver com a distância, superar a saudade, porque de
alguma forma nos acomodamos, pois sabemos que se realmente
precisarmos estaremos sempre juntos e o sorriso de Etelma, a sua
alegria e o seu carinho não pareciam tão distantes assim.
Deixemos para trás
o pessimismo sombrio do “eterno retorno”, filosofia dos infelizes
que não tiveram o discernimento de encontrar sentido nas coisas mais
simples da vida, ou que não souberam construir um círculo de amor
que nos faz escorregar suavemente, sem colidir com dobras ou arestas,
e retornar ao ponto inicial de nossa existência: A casa da mãe, a
família, o aconchego do lar, a presença festiva dos irmãos e dos
amigos. Que alegria seria para qualquer um dos irmãos retornar a rua
Visconde de Porto Alegre 446, abrir o portão e encontrar Etelma
sempre disposta ao improviso, somente com o intuito de ser feliz e
nos contagiar com a sua felicidade. Encontrar a porta da casa sempre
cheia de gente varando a madrugada porque ela tinha o poder mágico
de catalisar pessoas ao seu redor e quando morou no Rio de Janeiro,
na praia de Botafogo, isso não foi diferente. Os três irmãos, os
amigos e as amigas eram apenas personagens coadjuvantes de um teatro
que a estrela principal era a menina gordinha, baixinha, geniosa,
alegre e com uma força de vontade, uma beleza que não se encontra
nos contos de fada. Etelma cresceu assim, amou assim, foi mãe assim,
e tornou-se, para cada um de nós que percebemos sua essência, uma
joia de valor incalculável.
A morte é um
mistério que cada um de nós um dia haverá de descobrir, mas a
nossa fé em Jesus Cristo aponta que aquilo que possa parecer
incompreensível à razão humana é na verdade a verdadeira
expressão do amor de Deus. Ele nos conhece, sabe de nossas falhas,
nos perdoa, sara o nosso sofrimento e ao seu modo nos conduz à luz.
Quando perdemos
alguém que amamos dois sentimentos se agigantam: Saudade e Tristeza.
E é na despedida
que esses dois sentimentos parecem não caber na solidão que invade
e transforma em vazio tudo o que está ao nosso redor.
Porém, nesses
momentos de profunda dor e solidão é que a solidariedade da família
e dos amigos nos ajudam a perceber que não estamos sozinhos em nosso
sofrimento.
Corremos os olhos ao
redor e percebemos que o vazio aos poucos vai sendo preenchido com um
abraço, um afago, uma palavra amiga ou com simples um olhar que já
diz tudo.
A família Lago,
mãe, filho, irmãos, irmãs, sobrinhos, sobrinhas, cunhados,
cunhadas e todos os familiares de Etelma agradecemos a presença
solidária de cada um de vocês.
O vosso carinho e solidariedade com o nosso sofrimento nos faz
acreditar que em meio a um mundo materialista e ausente de
sentimentos existem pessoas como você que se sente capaz de calçar
as nossas sandálias, curar nossas feridas e trilhar juntos o caminho
da esperança.
Muito obrigado!
Família Lago