Albert
Einstein era judeu e independentemente de ser um grande cientista o
fato de ser judeu era superveniente a sua condição intelectual. O
nazismo agiu dessa maneira, sua régua olhava o indivíduo como sendo
pertencente, ou não, de uma elite gênica que estava ali ungida para
herdar e governar a terra. Assim, não somente mandou para campos de
concentração os judeus, mas também os ciganos, homossexuais,
comunistas e demais antagonistas de sua supremacia racial e
ideológica. Já com a pequena comunidade negra existente na Alemanha
o nazismo foi mais complacente, a partir das leis raciais de
Nuremberg de 1935 foram proibidas os “casamentos raciais”, os
casais mistos obrigados a separarem-se e o que não tinha “sangue
alemão” convidado a ser esterilizado.
Wernher
von Braun também foi um grande cientista alemão, filiado ao nazismo
e o seu conhecimento foi colocado em prática na fabricação dos
mísseis V-2 que caíram sobre Londres no final da segunda guerra
mundial. Quando a guerra terminou, apesar de sua participação
relevante no poderio bélico nazista, foi levado para os EUA onde
todo o seu conhecimento em fabricação de foguetes foi utilizado no
programa espacial estadunidense nas décadas de 60 e 70. Não somente
von Braun foi importante para a chegada do homem à Lua, mas se hoje
temos comunicações via satélite foi por sua contribuição no
aperfeiçoamento de veículos lançadores de satélites. Nesse ponto
é que Einstein e von Braun unem-se em suas descobertas, pois se foi
por meio das equações de Einstein que foi possível a construção
da bomba atômica, também foi por intermédio dos foguetes de von
Braun que as ogivas nucleares foram apontadas para o “inimigo” e
durante quarenta e quatro anos vivemos em guerra fria (EUA
capitalista versus URSS comunista). As guerras são um flagelo no
qual governos e ideologias digladiam-se em meio a uma população
civil que eventualmente os apoiam, ou não. Porém, a história nos
ensina que líderes com o interesse voltado para a coletividade são
paridos em ambiente democrático. Porém, também é fato que a
democracia pode fornecer uma porta de acesso aos déspotas que uma
vez instalados como governo tratam de destruir as instituições que
permitiram levá-los ao poder. Desta forma, a sustentação do Estado
Democrático de Direito depende do grau de maturidade da democracia e
o quanto a Constituição que a sustenta é respeitada e seguida.
Assim, não há justificativa dentro da democracia que possa permitir
uma ruptura institucional por menor que seja, pois todos estão
abaixo das mesmas leis e são iguais perante elas.
O
Nazismo subiu ao poder na Alemanha não por um golpe de Estado, mas
porque se aproveitou da frágil democracia de um país arrasado
economicamente para construir um governo autoritário que perseguia e
assassinava pessoas. Einstein não teria tido a chance de formular a
teoria da relatividade, pois antes disto teria sido enviado para um
campo de concentração. Ao mesmo tempo, Wernher von Braun poderia
ter sido julgado e condenado à morte pelo tribunal de Nuremberg por
crimes contra a humanidade, mas ao ser capturado pelos EUA conseguiu
convencer que era tão somente um cidadão alemão que não tinha
escolhas, ou seja, deveria contribuir para o nazismo ou seria morto.
Chegou a alegar que para não ser chamado de comunista teve que
participar como membro nazista e durante toda sua vida nos EUA foi
confrontado quanto a sinceridade dessa afirmação. Se o nazismo
fosse democrático essa afirmação não faria o menor sentido.
A
“caça as bruxas” acontece quando as instituições democráticas
deixam de garantir os direitos fundamentais para qualquer cidadão e
o indivíduo é perseguido não por atos criminosos, mas por seu
posicionamento ideológico, ou por conjuntos como fatores étnicos,
opção sexual etc. Os amantes do autoritarismo começam comendo
pelas bordas tratando de suprimir o contrário dentro de suas esferas
de poder. Mandam exonerar funcionários públicos que no passado
serviram, ou contrariaram o interesse pessoal do tirano. Perseguem
ícones do pensamento humanístico chamando-os de “comunistas” e
patrulham eventuais seguidores como uma raça a ser subtraída do
mundo. Na verdade, são terraplanistas da ignorância que nem a toda
equação elegante de Einstein, nem qualquer foguete de von Braun que
os leve a estratosfera os farão crer que o mundo é redondo.
João
Lago
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