Em minha carreira
profissional como professor muitas vezes recebi elogios quanto a
minha facilidade de produzir textos e que alguns creditaram a isso a
uma capacidade nata. Infelizmente não foi, apesar que acredite que
possam existir pessoas com maior facilidade para serem músicos,
matemáticos etc., por esses acidentes genéticos que produzem
maravilhosas sinapses cerebrais na mente de gênios. Em meu caso,
muito antes da necessidade escrever, adquiri um prazer compulsivo
pela leitura que se estendia desde os dizeres de uma caixa de sabão
em pó, indo a uma bula de remédio, notícias de um jornal até
obras da literatura nacional e internacional. Assim, em um dado
momento de minha vida eu identificava-me com um ávido leitor dos
mais ecléticos possíveis.
Um fenômeno da era
da internet é a migração de escritores para os videoblogues. Nomes
prestigiados como Marco Antonio Villa, Luiz Felipe Pondé, Mario
Sergio Cortella, Leandro Karnal, dentre outros, que antes de
inaugurarem canais de vídeo para divulgação de suas ideias o
faziam por meio de seus livros. Por outro lado, muita gente que
acumula milhares de visualizações (views) de seus vídeos na
internet jamais escreveram um livro, ou uma resenha sequer, mas por
força de uma certa preguiça que o brasileiro tem pela leitura faz
de alguns canais líderes de audiência. Em minha análise, a mesma
preguiça que há por uma leitura mais densa e elaborada faz também
de microblogues, nos quais há limitação duzentos e oitenta
caracteres, um sucesso absoluto de público com milhares de
seguidores. Neste ponto, junta-se a fome com a vontade de comer, ou
seja, gente com pouca capacidade de escrever com uma horda com desejo
limitado de leitura. O mais irônico é que mesmo na pouca limitação
que há na quantidade escrita não anula o assassinato da gramática.
Outro hábito que se
popularizou é o compartilhamento de notícias, sejam as mesmas
falsas ou verdadeiras nas redes sociais. No que se refere às
notícias falsas o mal está na origem dos motivos de quem se utiliza
de um suposto anonimato para espalhar maledicências. Porém, mesmo
as que possam ser verdadeiras, quando analisadas, podem ser somente
uma parte recortada da realidade dos fatos, como por exemplo:
palavras pinçadas de um contexto, parte editada de um vídeo que
servem para reforçar ideias contrárias ao fato quando se vista a
informação em sua integralidade. Aqui podemos encontrar dois
fatores que se complementam. O primeiro é se a mensagem vai ao
encontro da ideologia do receptor e o segundo é a falta de
curiosidade (ou preguiça intelectual) para saber se tal notícia é
verdadeira ou não. Logicamente, todo fenômeno social não acontece
limitado por dois ou três fatores, mas alguns podem ter maior ou
menor participação a partir do tecido social no qual se entranham.
Dito isto, a baixa cultura do receptor, a doutrinação ideológica a
partir da fragilidade na qual sua consciência possa ser capturada é
uma explicação porque tantas almas, sejam elas mais à esquerda ou
à direita, teimam em negar a evidência dos fatos.
Infelizmente, as
mensagens espúrias vazadas da comunicação entre o ex-juiz Sérgio
Moro e os procuradores da Força-tarefa da Lava Jato demonstram que,
embora nossas convicções possam vir de leitura ávida de documentos
públicos e do acompanhamento inconteste dos fatos exibidos nas mais
diversas mídias, o que existe no subterrâneo, na “deep web” das
consciências, muitas vezes não vem a luz da opinião pública. O
que podemos aprender com esses últimos acontecimentos é que a
verdade nas democracias somente sobrevive face a dois princípios
fundamentais: Liberdade de Expressão e Livre Imprensa.
João Lago.