Existe uma previsão do Banco
Mundial que até o final deste Século aproximadamente 70% da população global
estará vivendo em grandes aglomerados urbanos e não é preciso dizer que para
viver em qualquer grande cidade é necessário ter sempre dinheiro a mão, ao
contrário de viver no campo. É porque ainda reside a ideia que a vida rural
pode ainda proporcionar uma família viver com uma produção de subsistência e gerar
renda comercializando eventuais excedentes no mercado local. Porém, também é
verdade que o esvaziamento da população rural decorre dos grandes latifúndios
produtivos que já não precisam de tanta mão de obra devido à mecanização do
campo, nos quais máquinas agrícolas sofisticadas e caras substituem a força
humana. Neste cenário, também com a mecanização e profissionalização do trabalho
rural, a própria cultura de subsistência fica limitada em preço e capacidade de
produção e não tem força para competir com a produção do grande latifúndio. Os
maiores entraves estão no financiamento, especialização e logística.
O governo federal, por meio dos
bancos públicos, busca dar acesso ao crédito rural para financiar a produção do
pequeno produtor fomentando a agricultura familiar, ao mesmo tempo em que cria
no produtor uma dependência da disponibilidade de uma boa saúde financeira estatal
para que as verbas possam chegar. A má notícia é que vivemos um período em que
as necessidades tornaram-se ainda mais ilimitadas e os recursos ainda mais
escassos e em época de cobertor curto é certo que o contingenciamento de verbas
públicas afetará toda a cadeia produtiva. No entanto, não é só a perspectiva de
falta de financiamento que aflige o pequeno produtor. Enquanto o grande
produtor aumenta em expertise no seu negócio,
tanto que o termo mais correto para denominá-lo é “agro business”, o produtor rural familiar ainda dependente da força
humana e da complacência da natureza em proporcionar-lhe dias luminosos, muita
chuva para irrigar a lavoura e sorte para livrar-se das pragas da lavoura.
Ainda que se possa contar com alguma assistência técnica agrícola, outro fator
pode concorrer para o fracasso é a pouca experiência do produtor na cultura, ou
até mesmo a baixa instrução que traz a reboque a dificuldade de leitura e
estudo que poderiam auxiliá-lo em assimilar novas técnicas e vencer a falta de
experiência. Aqui podemos fazer uma severa crítica ao aliciamento que
determinados movimentos campesinos fazem para a ocupação rural quando percorrem
as periferias de cidades recrutando gente para invadir terras. Gente que não
tem qualquer vocação para o trabalho no campo recebe um lote de terra, eventualmente
dinheiro público, mas desiste de produzir antes de completar três anos de posse
da terra. No final, vendem a propriedade e retornam a periferia das cidades, ou
continuam no movimento campesino em um ciclo de ocupação e venda da propriedade
como “sem terras profissionais”. Porém, ainda que se tenha certo sucesso na
produção os problemas não terminam. O próximo entrave é a logística que
corresponde transportar e comercializar a produção nos grandes centros
consumidores e isso tanto afeta o grande produtor quanto o pequeno, sendo a
precariedade das rodovias, a falta de entrepostos para armazenagem e a garantia
de preço mínimo para o produtor, problemas ainda longe de serem solucionados.
Ficar somente na crítica não
ajuda o debate e levando em consideração a importância do agronegócio para o
Brasil, algumas medidas já deveriam estar consolidadas no campo. A mais urgente
é fortalecer e fiscalizar o associativismo, principalmente para o pequeno produtor,
pois isso permite uma política produtiva baseada em “cluster” que fomenta o
compartilhamento de bens, máquinas e fortalece o poder de barganha na
comercialização. Em relação ao processo
educacional, o produtor deve profissionalizar-se em sua atividade evitando o
amadorismo. Neste aspecto, da capacitação profissional, levar escolas agrícolas
e a extensão universitária para o campo com a finalidade de inovar, aumentar a produção
e a qualidade. Não tem sentido manter nas capitais escolas de agronomia e
veterinária longe do campo e sem conexão com o produtor rural. Ainda não
devemos esquecer que o empreendedorismo também deve ser ensinado, porque toda
atividade econômica não pode prescindir de saber empreender.
Finalizando, é inegável a força
econômica do agronegócio e naturalmente, o Brasil com uma imensa vocação
agrícola, não faltariam parceiros para financiar e lucrar com essa atividade e o
produtor não necessitaria permanecer
cliente de verbas vindas do suor dos impostos dos brasileiros. Tenho convicção
que a sociedade não aceita a distribuição de dinheiro à fundo perdido aos
aventureiros arrivistas, sem qualquer sintonia com a vida rural, muitos deles
de má-fé ou aliciados por movimentos maoistas rurais com a promessa de terra e
de dinheiro fácil.
Aos governos os produtores esperam
boas estradas, portos e linhas férreas que possam levar a produção até os
centros consumidores, também a viabilização da comercialização nos grandes
centros, principalmente para a agricultura familiar, de grandes feiras de
atacado e varejo. Muitas dessas infraestruturas já existem, precisando somente
uma gestão honesta, competente e profissionalizada.
João Lago.
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