Assim com esse teu jeito de andar
Com teu sorriso simples e aberto
E eu não querendo nada concreto
Quem sabe um beijo, talvez ficar
Um dia o suficiente? p’ra que arriscar?
E mudar o que temos como certo?
Amigos que se desejam por perto
E que tem muito medo de se complicar
Mas nossa história assim começou
E não tínhamos mais como evitar
Ainda que exista o medo de amar
Quem foi o primeiro que errou?
Se te faz bem, culpa tua, podes dizer
Eu assumo que dei o primeiro passo
Mas foste tu que me jogaste o laço
E eu não tinha para onde correr
Assim, agora envolvido, todo enrolado
Te quero sempre, sempre do meu lado
João Lago
Manaus, Janeiro de 2017.
terça-feira, 31 de janeiro de 2017
quinta-feira, 26 de janeiro de 2017
Cinquenta anos
Na Grécia Clássica, Heráclito de
Éfeso disse que “nenhum homem pode banhar-se duas vezes no mesmo rio, pois na
segunda vez o rio já não é o mesmo, nem tão pouco o homem”. É nessa constante
mutação que a capacidade de adaptação, ou de adequação, traduz-se em uma
constante reinvenção de si próprio, em um processo de renovação de experiências
de vida que somente podem ser vividas uma vez só.
Nesses meus cinquenta anos que
completo neste mês de janeiro de 2017, posso considerar-me um homem que
acumulou alguma experiência de vida. Olhando para trás, em uma rápida
contabilidade de minhas andanças, morei em cinco estados deste país, vivendo em
oito cidades diferentes, trabalhando em onze empresas distintas, dentre elas,
duas do setor financeiro, uma da aviação civil, uma de consultoria empresarial,
uma multinacional da indústria de alimentos, uma empresa de logística e cinco
instituições de ensino superior. É verdade que algumas adaptações foram
necessárias ao longo do tempo, mas se não tivesse a imensa curiosidade que
tenho e a enorme vontade de aprender sempre, talvez as coisas fossem um pouco
mais penosas e menos divertidas. Sim, a diversão é o tempero principal de
qualquer empreitada de vida, pois muitas vezes, por razões profissionais,
podemos não escolher onde ir morar, considerando que tenho a plena convicção
que a melhor cidade do mundo é aquela onde ganhamos o nosso sustento, na qual
temos oportunidade de estudar, cuidar de nossa família e educar os nossos
filhos. Pensando assim, considerando essas premissas básicas, procurei ser
feliz em cada cidade na qual morei justamente por buscar o que havia de melhor
em cada uma delas: a sua gente.
Nesse dia 26 de janeiro está
completando um ano em que vivo uma nova experiência, advinda da condição
resultante do espólio do fim de um relacionamento de mais de três décadas.
Assim, ao completar cinquenta anos e havendo de adaptar-me ao que não pude
planejar, ou sequer cogitar, mas simplesmente a aceitar empreender a minha reinvenção
mais dolorosa a qual nenhuma experiência passada é conselheira. Se antes tudo
que havia de novo transcorria externamente ao que chamamos de lar, agora são as
próprias paredes e o silêncio da morada que me constrange. Porém, antes de
alquebrar-me com a tristeza, lembrei-me que no período anterior a metaforme a
lagarta em metade de sua existência arrasta-se pelo mundo, mas em dado momento,
recolhe-se na solidão de crisálida para então sair, ganhar asas e viver a outra
metade de sua vida de forma mais livre e gloriosa. Em tempos de crisálida nada
melhor que se aconselhar em próprios pensamentos em um derradeiro e necessário
retorno a si próprio. Então, se antes o espaço de refúgio era o lar, agora são
os espaços externos que abrem suas portas para o acolhimento e novamente
vejo-me cercado de gente.
Há dez anos eu escrevi um texto
celebrando os meus quarenta anos e ao relê-lo percebi que o mesmo continua irretocável.
Não acrescentaria ou suprimiria uma única linha sequer, pois aquele pensamento
não se esmaeceu com o tempo, pelo contrário, acabou ganhando novas cores com a
adição de mais amigos, companheiros nessa jornada que o tempo de Deus nos
permite viver. Assim, neste texto que novamente ressalto a amizade e a importância
dos relacionamentos, reitero o quanto foi bom ter conhecido tanta gente e
vivido em tantos lugares.
Daqui a dez anos espero novamente
escrever uma mensagem para celebrar mais uma década, já não mais como uma
lagarta ou na prisão de uma crisálida, mas de asas abertas que sempre me
levarão para perto de gente.
João Lago.
Brasília, 29 de janeiro de 2007
Caro(a) Amigo(a).
Nesse último sábado completei quarenta anos e
talvez porque eu esteja emocionalmente fragilizado neste momento pela distância
que me separa de todos aqueles que amo e quero muito, deparei-me fazendo um balanço
dos últimos trinta e seis anos de consciência plena de minha existência, de
minhas lembranças de menino, de
adolescente e de homem.
Esse balanço, que nada mais é do que
reflexões sobre meus relacionamentos
e minhas realizações, chegou a constatação lógica que as lembranças de minha história que temos em comum não foi
marcada pelo tempo de nossa convivência, mas pela intensidade dessa relação
pessoal e como particularmente ficou marcada em minha recordações.
Simplificando, se escrevesse um livro de minhas memórias provavelmente não
haveria uma correlação entre o tempo de convivência e laudas escritas. A
percepção óbvia é que são as intensidades das relações humanas que marcam a
nossa memória e não a sua quantidade. Dessa forma, a quantidade exata de páginas
que escreveria particularmente sobre
ti, seria na proporção do impacto que o fato de ter-te conhecido modificou o
homem que sou hoje.
Não falarei muito das conclusões que tive
acerca de meus relacionamentos, haja vista que sou feliz com todos os que
tenho, pois são muitas histórias para contar e que não vivi esses quarenta anos
em uma cidadezinha qualquer e de forma tão besta (lembrando Drummond). Entretanto, falarei um pouco mais
de minhas realizações, cuja conclusão é que foram pífias, mas do ponto de vista
estritamente material, que isso seja bem esclarecido.
Não acumulei patrimônios que poderiam
fazer-me respeitado por aquilo que possuo. Posso exemplificar isso a partir de
um comentário que um amigo me fez no início da semana passada, quando ao passarmos
por um sedan lustroso e equipado, parafraseou: “esse é o carro que separa os
homens dos meninos”. A dita frase poderia ser estendida para uma casa, uma
gorda conta bancária ou qualquer outro bem físico que pudesse representar a
posse de um excelente patrimônio.
Não fui uma criança materialmente rica e hoje
aos quarenta anos não sou um homem rico. Fui de certa forma incompetente em
transformar minha capacidade intelectual em cifras, gordas cifras, revelando em
mim certa frustração momentânea. Assim, se fiquei profundamente satisfeito com
a primeira parte de meu balanço pessoal (meus relacionamentos), fiquei
decepcionado com o segundo (minhas posses). Entretanto, antes que pudesse
lamentar-me mais, percebi que se eu gastasse todas as minhas energias para
acumular dinheiro seria percebido como homem por itens meramente materiais, e
não pela impressão de quem realmente sou. É como se for homem fosse possuir um
carro bonito e que isto abrisse as
portas para conhecer o amor de uma mulher. Nesse ponto digo que durante toda a
minha vida dediquei-me a amar como um menino e não me arrependo um dia sequer
disto.
Talvez se tivesse muito dinheiro e, mesmo
assim, uma vida besta, enveredaria para a filantropia como forma de redenção,
pois esse é o caminho verdadeiramente positivo que qualquer um pode chegar,
ficando em paz com a sua consciência, ao invés de somente reclamar que os
impostos que se paga não retorna revertido na melhoria da sociedade e ponto.
Felizmente a filantropia não se resume somente em fazer doações, já que existe
a carência de voluntários nos mais variados projetos sociais, ou seja, o
importante é continuar indignando-se e agindo. Assim, de uma forma ou de outra,
indignar-se continuará sendo a centelha básica de toda a ação social.
Termino esta mensagem dizendo que me sinto
muito feliz e em paz comigo mesmo, na consciência de um homem, na simplicidade
de um menino que busca nas pessoas a inspiração necessária para o exercício do
amor e da compreensão humana. Portanto, neste momento, tenho um capítulo
especial gravado em minha história graças a ti.
Quero muito agradecer-te por ser meu(minha)
amigo(a).
João Lago
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