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quarta-feira, 25 de novembro de 2015

Conceição

Me convidaste para ver o sol
Anunciando o calor da manhã
O cheiro de café preenchendo a casa
O uniforme esticado sobre a cama

Levanta! Já é hora de amanhecer.

Aquela correria, aquele atropelo
E quando menos se espera: Meio-dia.
A mesa posta outra vez.
O caderno e o lápis esperando a lição

Vambora! Não é hora de esmorecer.

E o dia quente se adianta
Entre confusões e brincadeiras
O tempo que passa amornando
Minha infância perto de ti

Anda! Vem para casa dormir

E cobre-se a noite em manto escuro
A tua sombra que se inclina ao infinito
E eu corria para os teus braços
Para um longo e precioso abraço

E fecha o dia, como de costume
Agora e sempre,
Sua bênção mamãe.

Autor: João Lago
Administrador, professor e morador do Conjunto Santos Dumont.

segunda-feira, 9 de novembro de 2015

ALTA ROTATIVIDADE DO DESAPEGO EMOCIONAL



Uma série exibida dentro de um programa de TV dominical abordará a necessidade do desapego a pessoas. Sim, desapegar de pessoas, ou melhor dizendo, terminar um relacionamento.

Seguindo essa mesma linha de pensamento, recentemente revi o filme “Bitter Moon” (Lua de Fel), filme de Roman Polanski do ano de 1992 que tem no elenco Hugh Grant, Emmanuelle Seigner e Peter Coyote. O filme é um drama de um amor passional no qual a linda francesa Mimi, interpretada por Emmanuelle, sofre humilhações de seu companheiro Oscar (Peter Coyote), mas depois arquiteta uma vingança sórdida também repleta de abusos e humilhações. Mimi não consegue desapegar de Oscar e a obra cinematográfica demonstra a tênue linha que separa o amor e o ódio.

Até pouco tempo os relacionamentos que acabavam em casamento eram feitos para durar e antes de 1977 eram indissolúveis no Brasil. Uma vez casado não se podia deixar o casamento e o máximo que se podia fazer era pedir desquite, no qual havia a separação dos corpos, dos bens, mas o casamento era mantido.

A lei civil até a década de 70 carregava os preceitos morais de nossa cultura cristã católica e as escolhas deveriam possuir critérios do tipo: “antes de casar abra os olhos, depois é melhor fechá-los um pouco”. A intenção era a tolerância, ou abrir espaço para a mesma resolver os problemas conjugais porque esta era a única solução. Porém, essa minha reflexão é tentar compreender quando alguém deixa de amar o outro e busca o desapego. Será que as escolhas atuais são mais insensatas e irresponsáveis que de antigamente? Será que a facilidade para o desapego civil do casamento não o tenha transformado na celebração da paixão ao invés do amor? A paixão como sentimento platônico surge pela falta da posse do ser amado, fazendo amar o que não se tem. Porém, uma vez conseguido o objeto do desejo cessa o amor e surge a necessidade de uma nova conquista. São os amores de alta rotatividade.

É bem verdade que o desapego é mais deletério para a mulher, quando esta sofre o abandono de quem ama e a situação torna-se mais crítica com o avançar da idade. Assim, por mais que possa parecer um pensamento sexista e machista, o avanço (ou seria retrocesso?) na legislação civil é tão somente para garantir o apoio material e afetivo dos filhos, mas para os cônjuges, esses que se virem para suprir suas carências. O homem se resolve mais facilmente e até arrisco dizer que a situação é mais confortável quando esse decide desapegar-se, pelo simples fato que o hormônio masculino nos protege melhor do envelhecimento, enquanto que a mulher sofre com a perda acelerada do “viço” após os quarenta anos. Não é preciso ir muito longe para demonstrar isso, basta observar as grandes atrizes de cinema, como é caso da própria Emmanuelle Seigner, hoje com quarenta nove anos e compará-la com o Hugh Grant (55 anos) e ver que o mesmo segue tirando suspiros de moiçolas, enquanto que Emnanuelle, mesmo em seu último filme (A Pele de Vênus, também dirigido por Polanski) é apenas a sombra da femme fatale que foi aos vinte e seis anos. Atores são mais longevos em papeis de galã.

Sabemos que o amor é diferente de paixão e felizmente a filosofia nos apresenta mediações entre a paixão platônica e o amor Aristotélico no qual se busca amar o que se tem, fugindo-se das paixões. Porém, o amor Kairós (Cristão) é mais forte e incondicional, pois se deve amar o próximo como a si mesmo e isto por si só já resolveria todos os conflitos. Cristo disse aos fariseus que a dureza dos corações dos homens era a responsável pelo divórcio.

Assim, o desapego inicia quando endurecemos os nossos corações, seja porque nos entregamos às novas paixões, porque simplesmente deixamos de amar o que conquistamos, ou porque não nos colocamos no lugar do outro.

João Lago
Administrador, professor e morador do Conjunto Santos Dumont