Houve um momento na
história das primeiras comunidades cristãs que as coisas ficaram
feias. Paulo e Barnabé defendiam que os chamados gentios (não
judeus), ao se tornarem cristãos, não precisam adotar o judaísmo
antes do batismo. Tiago e a comunidade de Jerusalém exigia o
contrário. À beira de uma divisão, reuniram-se todas as lideranças
em Jerusalém e decidiram em favor de Paulo e Barnabé, mas
impuseram-lhes uma única exigência: “que nos lembrássemos dos
pobres” (G1 12,10).
Lembrar-se dos pobres e
por eles lutar são condições absolutamente indispensáveis para
viver a fé. Tiago é duro ao afirmar: “se alguém afirmar que tem
fé, mas não tem obras, que lhe aproveitaria isto? (Tg 2,14). O amor
aos outros e o amor a Deus estão intimamente ligados. “Quem não
ama a seu irmão, a quem vê, não poderá amar a Deus, a quem não
vê” (1 Jo 4,19).
Essa é a causa porque
a Igreja de Jesus deve-se voltar para os marginalizados e excluídos.
Sempre foi preocupação dos verdadeiros cristãos praticar as
chamadas obras de misericórdia, que foram apresentadas por Jesus
como critérios de juízo final. São elas: Dar de comer a quem tem
fome, dar de beber a quem tem sede, acolher os migrantes, vestir os
nus, cuidar dos doentes e visitar os presos (Mt 25, 34-35). A
misericórdia começa coma a justiça. Uma igreja misericordiosa é
também uma Igreja que luta pelos direitos humanos. Fé, misericórdia
e justiça se entrelaçam.
Foi no dia primeiro de
maio de 1962 que nasceu em Manaus a Cáritas como expressão de
misericórdia, justiça e fé. No início, a preocupação era dar
alimentos a famílias em situação de miséria. Com o passar do
tempo passou-se a ensinar e arrumar meios para as próprias pessoas
construírem suas vidas. Depois, viu-se a necessidade de mudar as
políticas públicas através da formação de pessoas que pudessem
atuar bem nos vários Conselhos Estaduais e Municipais. A Cáritas
ajudou catadores de lixo a se organizarem, apoiou as escolas de
formação sociopolítica e promoveu o voluntariado. São conhecidas
suas ações em casos de emergência.
Merecem ser bem
celebrados seus 50 anos como uma benção de Deus e um despertar da
sociedade.
Dom Luiz Soares Vieira
Arcebispo de Manaus+