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domingo, 3 de abril de 2022

Por que as imagens são cobertas durante a Quaresma?


Fiéis católicos acostumados desde criança a verem as imagens dos santos serem cobertas durante a quaresma talvez ainda não se tenham perguntado o significado litúrgico desse costume. Ao estudar a origem dessa prática vamos ao encontro da história de nossa fé que está alicerçada no ritual litúrgico celebrado nas igrejas. Assim, primeiramente vamos compreender que a Santa Missa rememora a Paixão, a Morte e a Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo e que as imagens que ornam as igrejas traz a lembrança daqueles que morreram pela fé no Salvador.

O católico cioso de sua fé compreende que a imagem de um santo é uma representação da pessoa venerada, ou seja, não adoramos a imagem de pedra, barro, gesso etc., mas vemos por meio dela a pessoa a quem ela representa e dedicamos uma veneração respeitosa a pessoa, não a imagem. Porém, se está difícil de compreender, imagine a fotografia de alguém muito querido (pai, mãe, filhos, avós etc.) e movido por saudade, ou admiração sejas tentado a beijá-la. Em verdade não estarás beijando o pedaço de papel, pois na sua mente a pessoa beijada é aquela que a imagem representa, sendo a fotografia apenas a materialização disso. Porém, se apesar dessa explicação ainda restem dúvidas do porquê da importância da veneração dos santos na igreja católica, convidamos a continuar a leitura.

Nos Evangelhos de Mateus, Lucas e Marcos (Mt 17:3, Lc 9:30 e Mc 9:4) Elias e Moisés vieram na transfiguração de Jesus, sendo que o primeiro havia sido arrebatado aos céus (2Rs 2:11) e o segundo morreu e foi sepultado (Dt 34:5 e Js 1:1). No entanto, o Evangelho de São João diz “E ninguém subiu ao céu, a não ser aquele que desceu do céu: o Filho do Homem. E da mesma forma que Moisés levantou a serpente no deserto, assim também é preciso que o Filho do Homem seja levantado, para todo aquele que Nele acreditar tenha a vida eterna” (Jo 3:13-16). Desta forma, se antes de Jesus ninguém subiu aos céus, onde estariam Elias e Moisés antes da transfiguração de Cristo? Na doutrina católica subsistem três igrejas: A igreja militante, onde se encontram todos nós que estamos nesta terra na busca da santidade; a igreja padecente constituída pelos mortos que estão no purgatório a quem rezamos pela expiação dos pecados (Mc 12:38-45) e; a igreja triunfante que por meio de Cristo já estão no paraíso (Lc 23:43). Pode-se dizer que ainda é um mistério o local no qual Moisés e Elias encontravam-se antes de Jesus Cristo, mas é certo por nossa fé que desde a paixão de Cristo estejam no paraíso.

Até aqui explicamos que existe um local reservado a todos aqueles glorificados em Cristo e que estando face a face com Deus podem interceder por nós junto a Ele. O fato dos apóstolos terem feitos milagres pela cura de doentes (Mt 10:1 e At 5:12-16) como intercessores de Cristo em vida, quando mortos e reunidos na igreja triunfante teriam cessados sua ação intermediadora? A fé católica na comunhão dos santos permite ao cristão católico pedir intercessão de cura e graças pela devoção a um deles. Neste sentido, a Lumen Gentium, capítulo VII, diz: “Com efeito, a vida daqueles que fielmente seguiram a Cristo, é um novo motivo que nos entusiasma a buscar a cidade futura (cfr. Hebr. 14,14; 11,10) e, ao mesmo tempo, nos ensina um caminho seguro, pelo qual, por entre as efémeras realidades deste mundo e segundo o estado e condição próprios de cada um, podemos chegar à união perfeita com Cristo, na qual consiste a santidade (156). É sobretudo na vida daqueles que, participando conosco da natureza humana, se transformam, porém, mais perfeitamente à imagem de Cristo, (cfr. 2 Cor. 3,18) que Deus revela aos homens, de maneira mais viva, a Sua presença e a Sua face. Neles nos fala, e nos dá um sinal do Seu reino (157), para o qual, rodeados de uma tão grande nuvem de testemunhas (cfr. Hebr. 12,1) e tendo uma tal afirmação da verdade do Evangelho, somos fortemente atraídos”. Resumindo, os santos são exemplos de vida que nos inspiram a santidade.

Justificada a devoção católica aos santos e a crença do poder de sua intercessão, voltamos ao início do texto para explicar porque eles são cobertos durante a quaresma. A rubrica inserida no Missal Romano pelo Papa Paulo VI em 3 de abril de 1969, 2ª edição típica, no sábado da IV semana da Quaresma (pág. 211, em português) e também a contida na Paschalis Sollemnitatis: A Preparação e Celebração das Festas Pascais, nº 26, nos ensina que: “o uso (costume) de cobrir as cruzes e as imagens na igreja, desde o V Domingo da Quaresma, pode ser conservado segundo a disposição da Conferência Episcopal. As cruzes permanecem cobertas até ao término da celebração da Paixão do Senhor na Sexta-feira Santa; as imagens até ao início da Vigília Pascal”. Ou seja, cobrir é facultativo, mas no Brasil por tradição não se deixou de fazê-lo mesmo depois de desobrigado.

Cobrir as imagens dos santos a partir do 5o. domingo da quaresma sinaliza ao católico que não é tempo para os fiéis dedicarem atenção aos Santos de sua devoção, mas a necessidade de voltarem sua atenção ao altar, onde se rememora o mistério da paixão, morte e ressurreição de Cristo.

Este texto poderia ter sido resumido apenas a esse penúltimo parágrafo, mas optamos por detalhar a origem de todos os princípios que baseiam a nossa doutrina cristã para uma melhor edificação de nossa fé católica.

João Lago