terça-feira, 25 de setembro de 2018
terça-feira, 11 de setembro de 2018
A micose política social
As dermatites alérgicas são combatidas com corticoides devido sua
ação imunossupressora que reduz a resposta do organismo à ação
do agente que desencadeou a reação alérgica. No entanto, se uma
micose (infecção por fungos) for confundida com uma dermatite
alérgica e um adepto da automedicação utilizar um fármaco a base
de corticoides em uma micose, em vez de resolver o problema,
aumentará ainda mais a infecção, porque ao enfraquecer o tecido
cria um ambiente propício para a doença crescer e multiplicar. Uso
essa metáfora porque na democracia face ao autoritarismo o mecanismo
funciona da mesma maneira.
A democracia, presente nos dado pela civilização grega clássica,
ainda é o melhor remédio para combater as tentativas de
autoritarismo que vez em quando voltam a nos assombrar, tanto a
direita, quanto a esquerda. E essa doença (o autoritarismo)
historicamente surge nos períodos de estagnação econômica, com o
aumento do desemprego e do empobrecimento da maioria da população.
Assim foi no século passado durante a ascensão do nazismo na
Alemanha nos anos 30 e, assim, ressurge na França em 2008 em pleno
século XXI. E o autoritarismo tem em sua gênese a escolha de um
culpado (ou culpados) para a desgraça econômica: imigrantes,
homossexuais, não cristãos etc. Promete resolver todos os problemas
por meio de um rígido controle social, restaurando a ordem e os bons
costumes com mão de ferro e quando possível suprimindo todos os que
pensam em contrário.
Na véspera do dia 7 de setembro, Jair Bolsonaro sofre um atentado de
um tresloucado que quase em um ato suicida esfaqueia o candidato em
meio a uma turba que o adjetiva de mito. Por muito menos já tive
conhecimento de pessoas serem linchadas por serem confundidas com
agressores, muitas vezes produto de lendas urbanas. Quem não se
recorda de uma mulher que em maio de 2014, na cidade de Guarujá-SP,
foi espancada até a morte porque circulava no Facebook um boato que
uma mulher sequestrava crianças para matá-las em um ritual de magia
negra. A pobre mulher foi reconhecida por peritos populares,
altamente treinados para reconhecerem semelhanças faciais, por meio
de um retrato falado grotesco produzido em uma ocorrência policial
de 2012 em Bonsucesso-RJ, distante dois anos no tempo e 512 km no
espaço do local do massacre. O único crime cometido pela mulher foi
ter oferecido uma fruta, que havia comprado pouco antes, para uma
criança que estava na rua. A mãe da criança acreditou que aquela
criatura fosse a suposta sequestradora e logo cerca de cem pessoas
começaram a persegui-la e agredi-la, principalmente porque tinha nas
mãos um livro preto de “magia negra” que na verdade era uma
Bíblia. Estou associando este fato ao atentado de Bolsonaro por dois
motivos: Primeiro porque a maioria dos eleitores de Bolsonaro parecem
acreditar que é possível fazer justiça com as próprias mãos (ou
próprias armas) como defende o candidato quando promete metralhar
seus adversários (de brincadeira lógico). Em segundo lugar porque o
agressor realmente declarou que estava disposto a ser imolado em prol
de um chamado divino, uma espécie de Jihad contra
o extremismo de direita.
A democracia
sofre um duro golpe, obviamente pelo atentado em si que qualquer
cidadão com sete graus de sensatez menores
que a minha repudiará
veementemente. Outro efeito
colateral é afastar Jair Bolsonaro dos debates, coisa que ele já
estava disposto a fazer, mas agora tem um motivo real para tal. Eram
justamente os debates o seu calcanhar de aquiles, pois é fato que
fora dos assuntos do qual está devidamente adestrado (kit gay, negar
o golpe de 64, não houve tortura na ditadura, armar a população
contra os bandidos, quilombolas vagabundos etc.) o candidato
Bolsonaro não tem muito a dizer. O
que mais me entristece e que
vejo muita gente boa, que apenas está
desiludida com a decadência
moral, principalmente aquela capitaneada pela Rede Globo de
Televisão, sentirem-se pessoalmente ofendidas em suas crenças.
Outro ponto em comum entre elas é a revolta contra as instituições,
principalmente aquela que permite que o bandido possa ter tantos
privilégios e que a corrupção seja uma prática sistêmica no
parlamento e nos governos. Não se trata absolutamente de
criminalizar a política, mas banir da política os criminosos e é
isso que o brasileiro médio tão somente deseja. Porém,
se realmente não vier uma reforma política que acabe com os
políticos profissionais, nunca
haverá uma renovação profunda nas esferas de governo, pois da
forma que está,
os partidos políticos são feudos sem qualquer ideologia e baseados
no “carisma” do dono da legenda. Os
partidos políticos, em sua maioria, tem donos no Brasil.
Não
se elimina uma micose com corticoide, da mesma forma que não se
combate o
autoritarismo com a
violência, pois ao usarmos o
remédio errado apenas criamos um substrato para a doença crescer. O
autoritarismo não se acomoda
na democracia e essa funciona
como um veneno as suas
pretensões. Portanto, é
um ato de burrice, ou insanidade, agredir um autoritário, basta que
o deixe
falar, pois o último recurso
de quem perdeu a razão é agir com violência. A força do argumento
é bem mais poderosa e faz calar que o argumento da força.
João Lago.
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