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sábado, 16 de junho de 2018

Caipirinha, samba, futebol e política



Muito se fala de nosso ufanismo quadrienal, das ruas enfeitadas de verde amarelo, das bandeirolas tremulando nos carros, dos jingles das propagandas enaltecendo o orgulho e a paixão de sermos “uma pátria de chuteiras”. Ao mesmo tempo, nas redes sociais pipocam comparações dos prêmios Nobel recebidos, do índice do Pisa que avalia a educação, do Índice de Desenvolvimento Humano – IDH de países desenvolvidos que não foram a Copa do Mundo, tripudiando a exaltação efêmera de sermos o único país com cinco mundiais.

Acredito que já estamos meios cansados dos exemplos vindos de países ditos de primeiro mundo, de forma a aviltar-nos em nossa condição de país subdesenvolvido, como se determinado arquétipo estivesse associado a uma condição socioeconômica superior, sendo este o motivo dessa aridez cívica brasileira que somente floresce em copas do mundo. Fugindo desse senso comum, vou citar a surpresa que tive em estar na Colômbia no dia 7 de agosto, data do reconhecimento de sua independência de Espanha e avistar as fachadas das casas enfeitadas de amarelo, azul e vermelho, bem como bandeiras da pátria em todos os lugares, parecendo muito como o Brasil em dias de jogo de copa do mundo.  Trata-se de um sentimento cívico que não vemos no dia 7 de setembro, como se o dia da libertação do Brasil de Portugal não tivesse relação com o sentimento de sermos realmente uma nação independente. Porém, convenhamos, enquanto a Colômbia, assim como nos demais países que pertenceram à extinta Grã-Colômbia, sua independência foi construída a golpes de espada e tiros de canhão, por aqui houve uma divisão de terras entre a família imperial portuguesa. Parece que estou até escutando o diálogo entre pai e filho: “Ó pá Pedrinho, Napoleão foi para os quintos dos infernos. Tu ficas cá com as terras de Brasil enquanto eu volto para reocupar Portugal antes que tudo vá para as cucuias”.


A tradição brasileira determina que, mesmo antes de sermos batizados, tenhamos um clube designado para torcer, pois, assim como o sobrenome, geralmente herdamos de nossos pais a paixão pelo futebol. No entanto, quando em 2013 a camisa da seleção brasileira invadiu as ruas como vestimenta oficial das manifestações populares, isto em pleno governo de Dilma Rousseff, a esquerda brasileira ainda não associava a caminha da CBF como símbolo da direita. Foi a partir das manifestações pelo impeachment de Dilma Rousseff em 2015 que a esquerda exacerbou ainda mais o discurso do “nós contra eles”, atribuindo o verde amarelo como símbolo dos “golpistas”. É fácil chegar a esta conclusão quando relembramos a copa do mundo em 2014, quando a camisa da seleção não era estigmatizada pela esquerda e uma eventual vitória do Brasil no mundial serviria bem aos propósitos políticos do governo petista, mas faltou combinar isto como a seleção da Alemanha. A verdade que na copa de 2014 não se ouviu falar de celeuma com a camisa da CBF, sendo esta uma discussão que ficou para 2018.

O futebol é uma paixão nacional que une todos os brasileiros e é um patrimônio imaterial para o nosso povo, assim como a caipirinha, o samba e o carnaval. Portanto, lamento profundamente que essa política rasteira, que não é capaz de uma autocrítica, insista na divisão ao invés de unir-se a todos os brasileiros que têm um desejo comum: querer políticos honestos e que os bandidos condenados por corrupção fiquem na cadeia pagando pelos seus crimes.

Reconheço que ainda temos que avançar em fatores que possam nos dar ainda mais orgulho de sermos brasileiros, mas nem por isso vou abandonar minha camisa verde amarela, deixar de torcer pela seleção brasileira, abster-me da caipirinha. Digo ainda que se o Brasil for hexa campeão, vou festejar com bastante samba, porque não é a estupidez da política que irá destruir o que essa nação também tem de melhor: Nossa alegria.

João Lago.