Urías Velásquez é um amigo
colombiano que admiro a intelectualidade apesar de divergimos ideologicamente
em alguns pontos.
Na Colômbia Urías é ferrenho
combatente do Álvaro Uribe, ex-presidente colombiano, que seria descrito no
Brasil como um “coxinha” neoliberal que estudou em Harvard e Oxford. No
entanto, quem defende Uribe alega que até 1999 havia 3,2 milhões de colombianos
em pobreza absoluta e durante os anos de 2002 e 2009, período em que Uribe foi
presidente, a pobreza foi reduzida para 1,7 milhão, tudo isto graças à
transferência de renda para programas sociais que somente em 2009 chegou a 17
bilhões de pesos colombianos (8,5 milhões dólares). A popularidade de Uribe
chegou a 83% no final de seu mandato, elegendo o seu sucessor Juan Manuel
Santos Calderón. Todo esse sucesso do “uribismo”, principalmente entre os mais
pobres, deixou a esquerda socialista colombiana em um vácuo de poder diferente
das esquerdas em outros sítios latino americanos.
É verdade que pesa sobre Uribe o
fato de haver sido, quando senador, contra a extradição de Pablo Escobar para o
EUA e que haja suspeitas que tenha recebido suborno do Cartel de Medellín, além
de vários casos de corrupção que eclodiram durante os seus dois mandatos.
Porém, ainda assim Uribe consegue defensores ferrenhos entre os mais pobres.
María Paula Romo (advogada
equatoriana, feminista e esquerdista) em um brilhante artigo(1) faz uma
retrospectiva da corrupção nos governos de esquerda na América Latina e
pergunta: ¿la corrupción es de izquierda
o de derecha? (A corrupção é de esquerda ou de direita?). María Romo lembra:
1º) o suposto tráfico de influência de Evo Morales no caso de Zapata na Bolívia
envolvendo cifras de 500 milhões de dólares; 2º) O superfaturamento de estradas
no Equador consideradas as mais caras do mundo; 3º) O caso Lázaro Báez no qual pesa
acusação de lavagem de dinheiro de mais de 55 milhões de euros e o envolvimento
com o casal Kirchner e; 4º) A corrupção da Petrobras e o PT no Brasil. Assim,
em uma brilhante lucidez de pensamento, a equatoriana esquerdista diz: “A
corrupção é a troca de dinheiro por poder e a esquerda (latino americana) se
manteve limpa porque não tinha nenhum dos dois e o que fazia impossível a troca”
(em minha livre tradução). Hoje a esquerda detém o poder.
Especialmente sobre a esquerda
brasileira não podemos dizer que foi pega de calças curtas, pois muito antes da
explosão da operação lava jato já tínhamos evidências que as coisas não
caminhavam bem. O loteamento do poder e as alianças com Collor, Maluf, Sarney e
demais figuras suspeitas da república demonstravam que é impossível descer no
pântano e não voltar com os pés sujos de lama. Porém, no caso do PT eles
atolaram até o pescoço e ainda saíram cuspindo lama uns nos outros.
Analisando a corrupção na América
Latina, não é surpresa que os líderes de Bolívia, Equador, Argentina etc.
apressadamente venham a condenar a justiça brasileira e junte coro com a esquerda
tupiniquim sobre um hipotético golpe em curso no Brasil. De forma conjunta eles
defendem a hegemonia do combate a pobreza e santificam o dinheiro da corrupção,
desde que seja para manutenção de seu projeto de poder.
O Brasil poderá dar exemplo de
uma rebelião democrática que não visa simplesmente a troca de uma esquerda
corrupta por uma direita de igual valor. As massivas manifestações nas ruas de
cidadãos e a aversão a participação de políticos no movimento é uma demonstração
clara que não há corrupção boa que seja justificada, seja de direita ou de esquerda.
Há apenas a corrupção que deve ser combatida e que os corruptos sejam
indiciados, julgados, condenados e presos. Porém, é imprescindível que não acreditemos
que a política somente funcione sobre a engrenagem da corrupção e que a
democracia seja possível sem a política. O sentimento de terra arrasada que
alguns preconizam não justifica o retorno de forças autoritárias e
antidemocráticas ao poder. Não caminhamos as duras penas até aqui para
retornarmos as trevas pela imoralidade do PT.
O momento que o Brasil atravessa
é para caminharmos com um passo de cada vez. Primeiro é necessário limpar a
presidência, depois a presidência do congresso e do senado federal. Tudo ao seu
tempo e acreditando sempre nas instituições democráticas deste país.
João Lago.
Nota
1. Romo,
María. ¿la corrupción es de izquierda o de derecha? Cuatro Pelagatos, março 2016. Disponível em http://4pelagatos.com/2016/03/25/entonces-la-corrupcion-es-de-izquierda-o-de-derecha/