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quarta-feira, 26 de dezembro de 2018

Natal Amigos Solidários 2018

Na manhã de Natal distribuímos brinquedos em três invasões aqui em Rio Preto da Eva e graças a Deus não ficou nenhum criança sem receber seu brinquedo. Agradecemos a todos os amigos que doaram recursos, tempo e apoio a essa causa. Muito obrigado, pois sem essa ajuda preciosa nada disto teria acontecido. Feliz Natal.

A solidariedade é um produto do amor que não se contenta em fazer feliz somente a quem estimamos. Solidariedade é um dom do amor que entregamos sem desejar absolutamente nada em troca além da alegria alheia. (João Lago)




segunda-feira, 24 de dezembro de 2018

Natal Solidário 2018 - Agradecimentos

Somos amigos solidários que há mais de cinco anos distribuímos brinquedos para crianças carentes na manhã de Natal (25 de dezembro).

A data pode parecer desconfortável, pois na véspera comemoramos com amigos e familiares a ceia de Natal, mas relembrando nossas lembranças mais ternas do Natal, o dia mais esperado de nossa infância é a manhã de 25 de dezembro, dia de abrir os presentes deixados por nossos pais debaixo na cama, ou sob a árvore de Natal. É justamente esta alegria é que buscamos levar a essas crianças, que pela impossibilidade material de seus pais, deixam de conhecer o sabor do Natal tão comum a tantos outras crianças.

Escolhemos comunidades que geralmente não são atendidas por nenhuma outra ação social e já tivemos oportunidade de levar essa alegria para crianças indígenas e também moradoras de comunidades urbanas que tiveram origem em invasões de terra.

Neste ano escolhemos distribuir brinquedos em uma comunidade carente de Rio Preto da Eva, município distante 80 km de Manaus.


Relação de Amigos Solidários

- 26/11 Cláucio Henrique de Belo Horizonte - MG........................ R$   50,00
- 01/12 Doadora anônima ................................................................R$ 150,00
- 01/12 Etelvina Lago de Manaus - AM...........................................R$ 100,00
- 05/12 Leila Bezerra de Manaus - AM............................................R$ 100,00
- 05/12 Anderson Martins de St. Louis - EUA..................................R$ 500,00
- 07/12 Hélio Silva de Vila Velha - ES .............................................R$ 150,00
- 07/12 Rodrigo Duarte de Manaus - AM.........................................R$   50,00

Sub-total.........................................................................................R$ 1.100,00

Gostaria de agradecer a Etelvina Lago, Jozimar e prof. Gugu embalaram cada um dos presentes.

Agradecer também tanto a Etelvina Lago, assim como Nazaré Jatobá que deram o apoio logístico necessário para o transporte dos brinquedos da loja em Manaus até o ponto de concentração de coleta. Agradecer a Rodrigo Duarte pelo transporte dos brinquedos de Manaus até Rio Preto da Eva. Agradecer antecipadamente a Dilson Souza pelo compromisso de transportar todos os brinquedos até o local da entrega dentro do município de Rio Preto da Eva.

A solidariedade é um produto do amor que não se contenta em fazer feliz somente a quem estimamos. Solidariedade é um dom do amor que entregamos sem desejar absolutamente nada em troca além da alegria alheia.

Muito obrigado e Feliz Natal.

João Lago.


domingo, 9 de dezembro de 2018

HOMENAGEM A MARILDA



Certa sabedoria popular diz que amigos verdadeiros são muito mais que irmãos, não no intuito de menosprezar os laços sanguíneos, mas para constatar que amigos verdadeiros, ao invés dos irmãos que não escolhemos, tem certas pessoas que entram em nossa vida e que se tornam necessárias e que vão além do amor fraternal, muitas vezes compulsório pela relação de parentesco.

Amigos verdadeiros nós elegemos e somos eleitos por eles como companheiros em todas as nossas caminhadas, seja nos encontros alegres ou nos momentos mais difíceis de nossas vidas. Logicamente quando convidamos alguém para uma festa não há certa dificuldade que essa pessoa aceite vir, principalmente quando ofertada sem ônus, mas para saber se tens um amigo de verdade basta pensar em quem recorrerias em um momento difícil de tua vida, seja material ou emocional. Boa parte de nós pode contar com um familiar, esse que não elegemos e que também são necessários em nossas vidas. Porém, se ao pensar em alguém e essa pessoa for um amigo é porque este laço ultrapassou a barreira do sangue e se consolida no que há de mais sublinhe em um relacionamento: O amor. A esse sentimento, que os cristãos antigos chamaram de Ágape, que em grego significa amor desprovido do sentimento romântico, e é o que une os amigos verdadeiros.

Marilda foi uma amiga verdadeira, dessas que o tempo somente assevera o quão são insubstituíveis e, quando se vão, deixavam um vazio que só é preenchido por outro sentimento: a saudade. Assim, uma forma de trazê-la novamente para junto de mim sempre será pelas recordações do que vivemos juntas: Nossas longas conversas, nossas viagens, o chopp no final de tarde (ela não bebia que fique claro isto, o chopp era meu) e, nos momentos mais difíceis, aquele ouvido que estava sempre pronto a escutar. Amigos como Marilda são pessoas necessárias e jamais deveria ser permitido que se fossem, mas face a inevitável ausência, resta-nos olhar para trás e perceber que se hoje somos pessoas melhores, foi porque nos acompanhamos de criaturas que nos fizeram ficar assim. Muito do melhor de mim está com certeza na contribuição que Marilda deu a minha vida.

Marilda, a ti ofereço minha saudade, minha amizade e toda minha gratidão. Obrigado minha amiga, Deus certamente acolheu-te em seus braços misericordiosos, na certeza que a tua devoção a Cristo foi o teu passaporte para a glória eterna, lugar este reservado aqueles que pautaram sua vida na fé.

Etelvina Pinheiro do Lago.


sábado, 24 de novembro de 2018

As últimas joias da coroa


Uma boa discussão sobre política econômica é perguntar no que foram investidos os USD 23,92 bilhões das privatizações que ocorreram no período de 1991 a 2002 nos governos Collor, Itamar Franco e FHC. Esse valor corresponde as privatizações da Companhia Siderúrgica Nacional – CSN, Companhia Vale do Rio Doce, Embraer e Telebrás. Se fossem vendidas hoje, considerando os valores a época convertidos em dólares americanos, devidamente corrigidos pela inflação nos EUA, hoje teríamos R$ 145,04 bilhões. Quando foram vendidas, não se tratavam de empresas deficitárias e pelo que se tornaram hoje demonstram que não eram um mal negócio, mesmo porque quando foram concebidas foram idealizadas para serem o Estado atuando em áreas essenciais com capital nacional. O fato da nacionalidade do capital é essencial para compreender que o volume de investimentos necessários para atuar em determinado setor, se não fosse pela iniciativa do Estado, muito provavelmente seriam de capital estrangeiro. Porém, elevados investimentos estrangeiros em um país passa pela concepção do “risco político” que significa se determinada nação não está sujeita a crises políticas que coloquem em risco o capital estrangeiro investido. Um exemplo disto foram as perdas que a Petrobras teve em 2006 em investimentos realizados na Bolívia quando Evo Morales, presidente eleito, decidiu nacionalizar a exploração de petróleo e gás naquele país. Na época, a imprensa noticiou USD 1,5 bilhão de perdas pela Petrobras. Atualizados hoje corresponderiam a R$ 7,44 bilhões.
A privatização sempre será a transferência de capital nacional para grupos que nem sempre são nativos. Isto significa dizer que quando uma empresa estrangeira compra capital nacional necessariamente enviará para o exterior parte dos lucros auferidos no negócio e, também pode-se afirmar, que a depender de seus interesses em seu mercado doméstico, ou ao redor do mundo, poderá haver desinvestimento em sua atividade local. Um exemplo disto é a Embraer que está em vias de ser adquirida pela gigante Boeing dos EUA. O interesse da Boeing é o mercado de jatos médios que a fabricante brasileira tem elevada vantagem competitiva face a concorrente Bombardier que é canadense. No entanto, não é certo que depois de transferida todas as marcas e a parcela de mercado que a Embraer tem no mundo que a Boeing mantenha sua produção de jatos no Brasil. Se ficar, parte dos lucros do negócio serão remetidos aos EUA, mas se for embora deixa uma lacuna em uma indústria de tecnologia de grande valor agregado que para ser construída novamente não será com capital nacional privado.
Na esfera geopolítica e econômica mundial, as empresas transnacionais atuam como braços econômicos cujos tentáculos aumentam os ganhos de capital além de suas fronteiras. Os EUA, um país com elevado número de multinacionais, em sua contabilidade nacional, adota o Produto Nacional Bruto – PNB, que significa que a riqueza nacional é computada contando com a produção de empresas que são de propriedade de residentes em seu território, assim como tudo o que é produzido no exterior por essas empresas (as multinacionais). O Brasil por sua vez adota o Produto Interno Bruto - PIB, que considera como a riqueza nacional tudo que é produzido em seu território, mesmo daquelas companhias que sejam propriedades de capital estrangeiro. Isso se dá pela imensa falta de multinacionais verde-amarela. No entanto, fomentar multinacionais brasileiras seria primeiramente fortalecer o mercado de capitais no que se refere ao aumento da possibilidade de qualquer empresa nacional (por menor que seja) tenha oportunidade de capitalizar-se vendendo parte de seu capital por meio de ações na bolsa de valores. Atualmente existe a Nasdaq que concentra boa parte da negociação de empresas da nova economia, ou seja, empresas de tecnologia que possuem como plataforma de negócios a internet na qual vendem produtos e serviços. A Google é uma das empresas que tem ações negociadas na Nadasq é atualmente tem o seu valor de mercado avaliado em USD 739 bilhões. Nada mal para uma empresa fundada em 1998, cujo negócio começou em uma garagem por dois jovens universitários.
É fato que não temos nenhuma empresa no Brasil que isoladamente valha tanto quanto as três primeiras corporações listadas como maiores em valor de mercado pela Nasdaq, mesmo porque boa parte de nossas empresas estão atreladas a velha economia, basta ver quais são as dez principais empresas brasileiras listadas no topo do Ibovespa (bolsa de valores brasileira): Ambev*, Itaú, Petrobras, Bradesco, Vale e Banco do Brasil. Juntas essas seis empresas em valor de mercado alcançariam USD 321 bilhões, sequer chegam a metade de uma Google.
Olhando mais detidamente para essa lista, vemos que a Ambev hoje não é mais controlada por capital brasileiro, sendo desde 2013 propriedade de Belgas, sendo portanto uma multinacional da Bélgica. A Vale, antes denominada Companhia Vale do Rio Doce, hoje 47% de seu capital está nas mãos de estrangeiros, mas ainda é brasileira no que se refere ao controle do capital com direito a voto, incluindo as ações chamadas de golden shares que obrigatoriamente são de titularidade do governo brasileiro. Finalizando, excluindo Itaú e Bradesco, sobram Petrobras e Banco do Brasil cujo o controle acionário é do governo brasileiro e foram as manchetes do noticiário como aquelas que devem ser privatizadas pelo governo Bolsonaro. A novidade é que o Paulo Guedes, futuro ministro da economia do novo governo, diz ser contrário a formação de consórcios para as privatizações. O consórcio, por exemplo, como feito na privatização da Vale, consiste na concentração provisória de empresas que se juntam para participarem em bloco do leilão por meio de uma nova estrutura organizacional que representa o agrupamento, mantendo-se juridicamente independentes cada um das empresas participantes do consórcio. Essa solução é para pulverizar o capital e para que não haja a possibilidade de uma única empresa ser dona de tudo, por exemplo uma empresa estrangeira. O mago da economia de Bolsonaro já afirmou em entrevista que é contra o sistema de formação de consórcios nas próximas privatizações. Isto abre oportunidades para que qualquer gigante petroleira, ou banco estrangeiro possam comprar e levarem sozinhos o capital de Petrobras e Banco do Brasil.
O Brasil tem um mercado de capitais insipientes, sendo muito pouco provável que da garagem de qualquer cidade brasileira surja uma grande corporação bilionária e poderosa. Também é verdade que temos poucas multinacionais e as que nos orgulhavam, como Ambev e Embraer, uma já passou ao controle acionário estrangeiro e outra está em vias de deixar o país. O que é mais interessante nessa pantomima toda armada por essa gente doutrinada no neoliberalismo da escola de Chicago é não compreender que o Brasil deve ser preparado para sua vocação em ser uma potência mundial no futuro, ou resignar-se e entregar-se a sina de ser somente um país fornecedor de commodities para o mundo industrializado. O Brasil não deveria pensar em vender as joias da coroa para demonstrar um alinhamento ideológico, mas preservá-las e protegendo-as do assédio de políticos e criar mecanismos de governança corporativas pautadas na visão de mercado, meritocracia e manutenção do capital nas mãos do povo brasileiro. Ser contrário a isso é muito estranho para quem saiu às ruas para votar usando verde e amarelo.
João Lago

segunda-feira, 29 de outubro de 2018

A sorte está lançada


Engana-se quem pensa que o resultado das urnas significa uma vitória, ou que a eleição de um candidato tenha o mesmo significado de vencer uma Copa do Mundo, motivo o qual muitos eleitores foram as ruas vestindo a camisa da seleção brasileira e soltando rojões. Porém, é verdade que nos tempos da ditadura o ufanismo era despertado por meio do futebol, paixão que levava a nação a vestir-se de verde e amarelo e sublimar o que ocorria nos porões da repressão. A copa do mundo na Rússia veio, passou e jaz esquecido o vexame histórico do placar de 1 a 7, cuja junção de números coincide com o algarismo do candidato que venceu a eleição presidencial. Mas, muito dirão: foi sete a um, esquecendo que no futebol a ordem do placar é determinada pelo mandante do campo. Ironias a parte, hoje a nossa jovem democracia é uma balzaquiana fértil, de trinta e três anos, que desperta olhares lascivos de quem dela deseja violar-lhe a inocência e dela parir o autoritarismo sob a espada do proselitismo religioso, recheado com discurso misógino, racista e preconceituoso.

Existem dois caminhos possíveis para os quatro anos que se avizinham. O primeiro é a confirmação, que apesar de jovem, nossa democracia tem as instituições sólidas o suficiente para repelir qualquer tentativa de ruptura institucional, mesmo que tenha amplo apoio popular para tal. O segundo caminho é mais tenebroso q ue me faz lembrar Jânio Quadros, cuja versão da história diz que renunciou a 25 de agosto de 1961 para retornar nos braços do povo e dos militares. Isto não aconteceu e qualquer cidadão bem informado sabe que assumiu com muito custo João Goulart (Jango), que era temido pela elite política da época a quem chamavam de comunista. Foi Leonel Brizola, cunhado de Jango, que tomou a frente da “campanha da legalidade” movimento político para fazer cumprir a constituição e fazer Jango tomar posse do cargo. Naquela época o golpe militar estava em curso, mas foi postergado quando se esvaziou o poder de Jango por meio da mudança de sistema de governo presidencialista para parlamentarista. Tancredo Neves assumiu como primeiro-ministro, mas por meio de um plebiscito em 1963 o presidencialismo retorna novamente como sistema de governo até que em março de 1964, um certo general Mourão, comandante da 4ª Região Militar e da 4ª Divisão de Infantaria do I Exército, sediados em Juiz de Fora-MG, deu início ao movimento de tropas que marchou rumo ao Rio de Janeiro para depor Jango da presidência. Estava instalado no Brasil uma das tantas ditaduras militares que ocorreram em toda a América do Sul.

Existem certas coincidências de nomes e fatos que antecedem o golpe militar de 64 com o atual quadro político. Primeiro, que passados vinte e nove anos da queda do muro de Berlim, marco do início da decadência política e econômica do comunismo, nesta eleição a abordagem mais usada pela extrema direita foi do medo patético do Brasil tornar-se uma nação comunista. A segunda coincidência é que a falência da centro-direita, personificada pelo PSDB que durante as últimas campanhas presidenciais polarizava com o PT, foi a lona a partir do envolvimento de outro Neves (Aécio neto de Tancredo) com o escândalo de corrupção da lava-jato. Terceira coincidência é um certo General Mourão que foi o quarto nome indicado para compor a chapa de Bolsonaro depois que declinaram Magno Malta, Janaína Paschoal e o príncipe Luiz Orleans e Bragança. Se não veio o general da 4a. Região/Divisão, veio pela quarta indicação.

As coincidências podem ser sombrias, mas no final poderão não significar absolutamente nada e todas as bobagens ditas por Bolsonaro e aliados, que embora interpretadas como ameaças a democracia, foram simplesmente bravatas com o intuito de ganhar a eleição. Porém, o que chegou a presidência da república não é um neófito, pois se nos seus vinte e sete anos como parlamentar não conseguiu compreender que apoio político não se conquista no parlamento brasileiro com saliva, mas com o tão simples toma-lá-dá-cá, poderá ser que seja mais um que ao defrontar-se com a realidade venha a corromper-se ou, muito pior, seguir com desejos absolutos de poder justificando para isto a inoperância das forças democráticas. Seria bem melhor para o Brasil que as discussões políticas nesse último pleito tivessem ficado no embate programático, mas pouco se ouviu de propostas para a economia, educação, saúde e segurança. O eleito sequer participou de debates, restringindo-se a uma campanha baseada em redes sociais e mensagens de whatsapp.

A nação brasileira assinou um cheque em branco muito difícil de ser descontado nos próximos quatro anos. Resta saber se para descontá-lo estará disposto a apoiar uma ditadura ou esperar que outro venha a pagar essa conta sob a égide da democracia. Em todo o caso não adianta mais chorar o leite derramado. A sorte está lançada.

João Lago.


sexta-feira, 12 de outubro de 2018

Enquanto a cura não vem.

Certa vez uma criança ficou gravemente enferma e a doença era de difícil tratamento. Assim, a família viu-se na decisão de submetê-la a uma terapia de cura com o viés de poder levá-la a uma morte rápida, ou simplesmente tratá-la paliativamente, atenuando-lhe as dores e estender sua vida por mais alguns anos, confiando que inteligência humana poderia encontrar a cura para o mal. A idade da paciente era crucial e as chances de morte após iniciado o tratamento eram de 95%.

O dilema aqui proposto assemelha-se muito a nossa jovem democracia, pois apesar de o regime democrático ser imperfeito como qualquer arranjo humano, a possibilidade da decisão popular, de tempos em tempos reequilibrar as forças na sociedade, faz com que a democracia tenha supremacia a qualquer outra forma de organização política. O remédio para os regimes autoritários sempre será a democracia e justamente por isso que somente quando o corpo da sociedade está enfraquecido que movimentos antidemocráticos crescem e ganham apoio popular. Aliás, o nazismo historicamente tomou conta do povo alemão em 1932 por meio voto popular e cresceu exclusivamente devido à grave crise econômica que assolava a Europa no pós-guerra. A Alemanha era um corpo alquebrado pela primeira guerra mundial e chegou a uma inflação de mais de 1.000% ao mês. A baixa estima do povo alemão por ter perdido a guerra e, por conseguinte, a perda de territórios, favoreceu o discurso nacionalista de Hitler cujos versos Deutschland, Deutschland über alles, Über alles in der Welt (Alemanha, Alemanha acima de todos, sobre tudo no mundo) conclamava e evocava a superioridade germânica. Assim, não me parece coincidência que o principal lema do atual líder do nacionalismo brasileiro seja: “Brasil acima de tudo. deus acima de todos”. O movimento brasileiro acrescenta “deus” (inicial minúscula mesmo) como um ingrediente religioso que confere um fanatismo as ideias totalitárias tupiniquim, como foi o próprio nazismo uma espécie de seita configurada no culto a personalidade de Hitler. O próprio cumprimento nazista heil Hitler (pronuncia-se rái Hitler) é uma imitação da saudação romana Ave César que foi dramatizada no cinema como uma forma de culto obsessivo ao imperador.

Converso com as pessoas nas ruas e observo as mensagens que circulam nas redes sociais e concluo que os indivíduos atribuem a principal doença do país a forma de organização política e a decadência moral e ética da sociedade e de membros do parlamento. Personificam um candidato como capaz de resolver esses problemas, além de atribuir-lhe competência para assuntos que não são da alçada da presidência da república. Temas como o aborto, o ativismo gay e feminista, o ensino de ideologia de gênero, o partidarismo de professores nas escolas e a erotização promovida por uma determinada emissora de TV, pouca ou nenhuma influência tem na escolha do presidente. Essas questões estão mais voltadas na escolha de deputados e senadores que sejam contrário a isso, pois é nessa esfera de poder que as leis são forjadas. Além disso, assuntos da tutela dos governos estaduais em sua capilaridade como saúde, educação e segurança, são vistos como passiveis de solução política de um único homem. Pouca, ou nenhuma atenção se dá as políticas econômicas dos candidatos que é justamente o que pode dar sustentabilidade a uma paz social tão desejada.

Em ambas as opções que estão propostas para o segundo turno, parece desaparecer, ou estar em segundo plano, a trajetória política dos candidatos. Um deles, o que se aproxima de ideias fascistas, em seus vinte e sete anos como parlamentar jamais denunciou a corrupção que levou o Rio de Janeiro ao caos na saúde e segurança pública, sendo esse o mesmo estado que o elegeu a sucessivos mandatos como deputado federal. Aliás, esse tal candidato foi eleito com o hoje presidiário Sérgio Cabral, ex-governador fluminense que na época de sua eleição estava na coligação "Juntos pelo Rio". Os partidos PP, PMDB e PT estavam coligados para elegerem Sérgio Cabral e o PP era o partido do também hoje presidiário Paulo Maluf. O eleitor parece ignorar trajetória política tão nefasta e acreditar que o discurso racista, misógino, homofóbico e anticomunista tenha poder de purificá-lo de seu próprio passado. Já o outro candidato, aconselha-se com um condenado na justiça e tem uma trajetória pífia na prefeitura de São Paulo que não o habilita como gestor. O que mais pesa sobre o candidato petista é que boa parte do eleitorado também não esqueceu o discurso de ódio do “nós contra eles” e se identifica como adversário no “eles”, além de atribuir ao PT a culpa pela decadência moral dos costumes e pela leniência com a corrupção. Como se isso tudo não fosse suficiente, a indicação de Dilma Rousseff como presidente demonstrou ser um fiasco total pelo descontrole com a política econômica que levou mais de 14 milhões ao desemprego. Como resultado, o esvaziamento dos votos de Alckmin e de Marina Silva no primeiro turno indicam o óbvio: parcela dos votos de ambos migraram para Ciro Gomes e Bolsonaro. Porém, para o segundo turno não é certo que esse voto de maior de qualidade, que permaneceu na esquerda e direita moderada, possa migrar para Haddad ou Bolsonaro, pois o eleitor mais qualificado não se identifica nem com um, nem com outro. A tendência é aumentarem os votos brancos e nulos, a menos que um ou outro possa convencer o eleitor que o passo para o precipício está mais nos pés do adversário. Neste ponto Bolsonaro e Haddad tem muito em comum, a qualidade de seus apoiadores e simpatizantes que nada agregam ao discurso conciliador e pacificador.

Escolher o menos pior não parece ser um caminho racional, pois a escolha do eleitor deverá responder a pergunta crucial que está contida no primeiro parágrafo desta reflexão: São quatro anos de um remédio que pode matar o tecido social brasileiro e a nossa jovem democracia. Portanto, qual das duas fórmulas tem mais chances de ser um paliativo enquanto não vem a cura? O eleitor tem no íntimo essa resposta e talvez por ser tão vergonhoso declará-la, só realmente saberemos sua decisão no final da tarde do dia 28 de outubro. A sorte está lançada e que Deus tenha piedade desta nação.

João Lago

terça-feira, 11 de setembro de 2018

A micose política social


As dermatites alérgicas são combatidas com corticoides devido sua ação imunossupressora que reduz a resposta do organismo à ação do agente que desencadeou a reação alérgica. No entanto, se uma micose (infecção por fungos) for confundida com uma dermatite alérgica e um adepto da automedicação utilizar um fármaco a base de corticoides em uma micose, em vez de resolver o problema, aumentará ainda mais a infecção, porque ao enfraquecer o tecido cria um ambiente propício para a doença crescer e multiplicar. Uso essa metáfora porque na democracia face ao autoritarismo o mecanismo funciona da mesma maneira.

A democracia, presente nos dado pela civilização grega clássica, ainda é o melhor remédio para combater as tentativas de autoritarismo que vez em quando voltam a nos assombrar, tanto a direita, quanto a esquerda. E essa doença (o autoritarismo) historicamente surge nos períodos de estagnação econômica, com o aumento do desemprego e do empobrecimento da maioria da população. Assim foi no século passado durante a ascensão do nazismo na Alemanha nos anos 30 e, assim, ressurge na França em 2008 em pleno século XXI. E o autoritarismo tem em sua gênese a escolha de um culpado (ou culpados) para a desgraça econômica: imigrantes, homossexuais, não cristãos etc. Promete resolver todos os problemas por meio de um rígido controle social, restaurando a ordem e os bons costumes com mão de ferro e quando possível suprimindo todos os que pensam em contrário.

Na véspera do dia 7 de setembro, Jair Bolsonaro sofre um atentado de um tresloucado que quase em um ato suicida esfaqueia o candidato em meio a uma turba que o adjetiva de mito. Por muito menos já tive conhecimento de pessoas serem linchadas por serem confundidas com agressores, muitas vezes produto de lendas urbanas. Quem não se recorda de uma mulher que em maio de 2014, na cidade de Guarujá-SP, foi espancada até a morte porque circulava no Facebook um boato que uma mulher sequestrava crianças para matá-las em um ritual de magia negra. A pobre mulher foi reconhecida por peritos populares, altamente treinados para reconhecerem semelhanças faciais, por meio de um retrato falado grotesco produzido em uma ocorrência policial de 2012 em Bonsucesso-RJ, distante dois anos no tempo e 512 km no espaço do local do massacre. O único crime cometido pela mulher foi ter oferecido uma fruta, que havia comprado pouco antes, para uma criança que estava na rua. A mãe da criança acreditou que aquela criatura fosse a suposta sequestradora e logo cerca de cem pessoas começaram a persegui-la e agredi-la, principalmente porque tinha nas mãos um livro preto de “magia negra” que na verdade era uma Bíblia. Estou associando este fato ao atentado de Bolsonaro por dois motivos: Primeiro porque a maioria dos eleitores de Bolsonaro parecem acreditar que é possível fazer justiça com as próprias mãos (ou próprias armas) como defende o candidato quando promete metralhar seus adversários (de brincadeira lógico). Em segundo lugar porque o agressor realmente declarou que estava disposto a ser imolado em prol de um chamado divino, uma espécie de Jihad contra o extremismo de direita.

A democracia sofre um duro golpe, obviamente pelo atentado em si que qualquer cidadão com sete graus de sensatez menores que a minha repudiará veementemente. Outro efeito colateral é afastar Jair Bolsonaro dos debates, coisa que ele já estava disposto a fazer, mas agora tem um motivo real para tal. Eram justamente os debates o seu calcanhar de aquiles, pois é fato que fora dos assuntos do qual está devidamente adestrado (kit gay, negar o golpe de 64, não houve tortura na ditadura, armar a população contra os bandidos, quilombolas vagabundos etc.) o candidato Bolsonaro não tem muito a dizer. O que mais me entristece e que vejo muita gente boa, que apenas está desiludida com a decadência moral, principalmente aquela capitaneada pela Rede Globo de Televisão, sentirem-se pessoalmente ofendidas em suas crenças. Outro ponto em comum entre elas é a revolta contra as instituições, principalmente aquela que permite que o bandido possa ter tantos privilégios e que a corrupção seja uma prática sistêmica no parlamento e nos governos. Não se trata absolutamente de criminalizar a política, mas banir da política os criminosos e é isso que o brasileiro médio tão somente deseja. Porém, se realmente não vier uma reforma política que acabe com os políticos profissionais, nunca haverá uma renovação profunda nas esferas de governo, pois da forma que está, os partidos políticos são feudos sem qualquer ideologia e baseados no “carisma” do dono da legenda. Os partidos políticos, em sua maioria, tem donos no Brasil.

Não se elimina uma micose com corticoide, da mesma forma que não se combate o autoritarismo com a violência, pois ao usarmos o remédio errado apenas criamos um substrato para a doença crescer. O autoritarismo não se acomoda na democracia e essa funciona como um veneno as suas pretensões. Portanto, é um ato de burrice, ou insanidade, agredir um autoritário, basta que o deixe falar, pois o último recurso de quem perdeu a razão é agir com violência. A força do argumento é bem mais poderosa e faz calar que o argumento da força.


João Lago.

domingo, 5 de agosto de 2018

Alegria e responsabilidade de ser pai



Em um texto que escrevi em maio de 2014, teci comentários a respeito da diferença do sentimento de pertencimento entre um homem e uma mulher em relação aos seus filhos. Dizia que enquanto o sentimento de mãe é forjado em suas entranhas, o homem demora um pouco mais para sentir-se pai, fato que somente ocorrerá com o filho materializado em seus braços. Falava do amor de mãe em tese, assim como em tese discorro boa parte das reflexões que escrevo, tentando afastar-me do objeto para construir um pensamento isento. No entanto, como poderia escrever sobre uma personagem tão importante na formação de nossa personalidade, seja intrinsecamente herdada, ou mesmo adquirida nos exemplos, e não misturar com a minha própria experiência de também ser pai?

Fui um pai jovem, quando aos vinte quatro anos, nove meses e vinte quatro dias encontrava-me no centro cirúrgico vendo o meu primeiro filho nascer. Segurava uma câmera VHS (que os mais de quarenta anos saberão o que é isto) encolhendo-me no canto da sala e sabendo que se por um caso eu desmaiasse não receberia auxílio, pois afinal naquele momento nem coadjuvante eu era. Um pai na hora do nascimento de seu filho é simplesmente torcida. Porém, além deste momento inesquecível, tenho muitas outras lembranças da infância de meus três filhos, mas três são significativas.

Em 1992, por motivo de trabalho fui transferido para Brasília antes que meu filho fizesse um ano de vida, ficando mais de um mês ausente de casa. Assim, quando retornei para buscar minha família em Manaus, depois dessa longa ausência, lembro-me que peguei meu filho no colo e dali ele não quis mais sair, mesmo quando a mãe estendeu-lhe os braços, como se para ele corresse o risco de ausentar-me novamente por tanto tempo. Posso dizer que me senti gratificado, porque naquele momento recebi uma retribuição do amor que tanto devotava por aquela pequena criatura.

Anos mais tarde, aproximadamente sete anos, meu segundo filho estava começando a balbuciar as primeiras palavras, ficando a expectativa se entre as sílabas pronunciadas sairia papai ou mamãe. Para nossa surpresa, ele não somente resolveu dizer papai, mas a cada tentativa de fazê-lo dizer mamãe ele retribuía dizendo “papai, papai”, fazendo rir todos a sua volta. Porém, enquanto que a primeira recordação de Lucas em meu colo apenas reside na minha memória, essa segunda de João Alfredo tenho gravada em áudio.

Quando fui pai pela terceira vez, durante o anúncio de uma nova gravidez, eu sinceramente pensei que fosse outro menino, porque parece que estava fadado a ser pai de meninos. No entanto, face a minha preocupação presente com a saúde de todos eles, além de acompanhar todas as idas ao pediatra, também fazia questão de estar presente no pré-natal. Lembro-me que por volta de dezesseis semanas, durante uma das ultrassonografias de acompanhamento, a médica perguntou se gostaríamos de saber se era menino ou menina. Logicamente saber o sexo do bebê facilita toda uma programação logística e dissemos que sim. Não demorou muito, para termos a certeza que era uma menina, pela posição que Lívia se encontrava que facilitou a identificação. Foi uma alegria muito intensa para mim e também um desafio, porque antes estava em uma situação confortável de ser pai de meninos, mas apreensivo em saber se me sairia bem como pai de uma menina. Porém, posso assegurar que foi paixão a primeira vista e antes que se possa dizer que pai e mãe sempre tem preferência por um filho em especial, na verdade o que há é uma preocupação seletiva por um deles, que pode ser por aquele que apresenta uma maior fragilidade frente ao mundo. Naturalmente, nesse mundo tão hostil em que a força bruta sobressai, ser mulher pode ser uma desvantagem e de alguma forma procurei dar uma maior atenção a ela.

Sou pai de três filhos, fugindo um pouco da ditadura dos dois, na qual um é pouco e três é demais. Isso em uma sociedade que prega o egoísmo que provoca ausências. Mas, posso dizer que durante toda a infância e adolescência deles, a não ser por breves momentos, impus a minha presença, o que foi importante para fazer-me mais humano e mais preocupado com o futuro de meu país. Até pode ser um senso comum, ou um aforismo dizer que construir um mundo melhor tem o intuito de deixá-lo de herança para os nossos filhos, mas na verdade ter essa preocupação é uma demonstração de amor. Um amor que deriva do instinto de proteção que temos por nossa família e que reflete em tudo o que está em nossa volta.

Os filhos crescem, escolhem os seus caminhos, mas ficam as lembranças da ternura que é ser pai. Contudo, nem todo homem pode se sentir vocacionado a ser pai e, por isso, a responsabilidade de colocar um filho no mundo não pode recair somente nos ombros de uma mulher. Eu acredito que toda a criança merece um pai presente e que toda a união entre um homem e uma mulher, que não for no intuito de formar uma família, seja de responsabilidade de ambos evitar uma gravidez indesejada. Escrevo isto porque esta sociedade egoista discute novamente a legalização do aborto no Brasil, voltando a discutir o que pode ser considerado vida, como se o feto no ventre de uma mulher fosse um amontoado de células a se reproduzir como um câncer. O que mais assustador, é que na cabeça de algumas feministas, o pai está isento do direito da paternidade, pois mesmo que deseje ver o seu filho nascer, ela se posiciona no direito de “extirpar o câncer” dizendo: “meu corpo, minhas regras”. Boa parte da asseveração desse pensamento reside no fato da indiferença e ausência da responsabilidade masculina na hora de deitar-se com uma mulher.

Concluo dizendo que ser pai é uma experiência fantástica, mesmo que inicialmente possa parecer um pouco assustadora. Pois nada, absolutamente nada, pode ser tão gratificante quanto a retribuição do amor de uma criança.

Feliz semana e dia dos pais.

João Lago.



sábado, 28 de julho de 2018

Estrangeiro

Somos todos de uma mesma raça: A humana. E uma das características que nos fizeram estar presentes em todos os continentes foi a nossa herança antropológica de ser nômade. As fronteiras são meras convenções criadas pelos homens, enaltecidas pelos estúpidos, ignoradas pelos pássaros, invisíveis aos fenômenos da natureza.


domingo, 22 de julho de 2018

Aos amantes de pitbulls


O pitbull é um cão de porte médio cuja literatura atribui a origem da raça na mistura de outras raças na intenção de produzir um cão de briga. Esses cruzamentos geraram um animal atarracado de pescoço musculoso e poderosa mandíbula. Essas características, apesar de algumas vozes contrárias, justificam a ocorrência de inúmeros acidentes com essa raça, na qual já foram registradas mutilações e até mortes. Em países como Inglaterra, Noruega e Dinamarca a criação da raça é proibida, assim como em alguns estados dos EUA. No Brasil, embora a má fama, o pitbull é uma raça que continua a ser mantida por alguns aficionados e apaixonados criadores que enxergam na agressividade uma qualidade a ser valorizada e procuram mitigar os ataques (inclusive ao próprio dono) como culpa do próprio proprietário quando adestra o animal para ser violento.

Nesse sábado (22/7), ouvi atentamente o discurso de Janaína Paschoal durante a convenção do Partido Social Liberal - PSL que lançou o capitão reformado Jair Bolsonaro como candidato a presidente no pleito deste ano. Para quem não se recorda, Janaína Paschoal é aquela professora e advogada, que em conjunto com o jurista Miguel Reale Júnior e Hélio Bicudo (um dos fundadores do PT) assinou o pedido de impeachment de Dilma Rousseff que foi aceito no Congresso Nacional. Janaína em sua fala chamou atenção dos partidários de Bolsonaro para não se igualarem ao discurso totalitário dos que somente aceitam como aliados os que aderem 100% as suas ideias. Disse ainda: "Enquanto procuramos pessoas que estejam dentro da totalidade do nosso pensamento, eles estão se unindo". Janaína, que ainda não se decidiu se aceita ser vice na chapa de Bolsonaro, veio com um discurso conciliador para uma plateia que recebeu Bolsonaro aos gritos de “mito”.

No outro extremo da política, Ciro Gomes durante sabatina da Abimaq (Associação Brasileira das Indústrias de Máquinas e Equipamentos) em São Paulo, nessa última terça (17/7), resolveu homenagear as profissionais do sexo atribuindo a uma delas a maternidade de um membro do Ministério Público de São Paulo (MP-SP) que teve a petulância de pedir abertura de um inquérito de injúria racial contra ele. Isto porque Ciro Gomes chamou de “capitãozinho do mato” o vereador Fernando Holiday que é negro e um dos coordenadores do MBL (Movimento Brasil Livre). A divergência de Ciro Gomes e Fernando Holiday é que esse último se diz contra as cotas raciais e também pede a abolição do feriado do dia da consciência negra. Na visão ideológica de Ciro Gomes a analogia racista se dá pelo fato que durante a escravatura, os chamados capitães do mato, em sua maioria negros libertos, estavam a serviço de homens brancos para recapturar escravos fugitivos. Só para piorar o destempero verborrágico de Ciro Gomes, o membro do MP-SP é uma mulher, ou seja, em uma só tacada Ciro Gomes conseguiu mostrar-se preconceituoso contra negros, prostitutas e por tabela ofendeu uma mulher e trouxe para si a ira da Associação Paulista do Ministério Público APMP, entidade que representa mais de 3.000 promotores e procuradores de Justiça de SP. Nada mal para um pré-candidato a presidente que terá como missão negociar com o Congresso Nacional e com a sociedade o destino desta nação para os próximos quatro anos.

Os donos de pitbull podem mandar seus cães para banho e tosa, colocar perfume e talco, colocar-lhes laços e fitas, mas ainda assim não deixaram de ser o que são: animais de briga, indóceis e prontos para morder a mão do dono. Por mais que o temperamento agressivo possa parecer apropriado para que pitbulls sejam indicados como bons cães de guarda, não é sensato tê-los em nossa casa. Os criadores de pitbulls enaltecem a raça, a defendem e alegam que a agressividade pode ser controlada é não seria um grave problema desde que bem adestrados em tenra idade. Da mesma forma, o padrão moral de um indivíduo é internalizado na infância, sendo pouco provável que um indivíduo adulto, na casa dos sessenta, tão enraizado em suas convicções possam deixá-las de lado como em um passe de mágica. Podem até fingir durante um tempo, mas logo sucumbem e mostram sua verdadeira face.

Moral da história: Os pitbulls e os certos políticos têm muito em comum, basta apenas contrariá-los.

João Lago.

sábado, 16 de junho de 2018

Caipirinha, samba, futebol e política



Muito se fala de nosso ufanismo quadrienal, das ruas enfeitadas de verde amarelo, das bandeirolas tremulando nos carros, dos jingles das propagandas enaltecendo o orgulho e a paixão de sermos “uma pátria de chuteiras”. Ao mesmo tempo, nas redes sociais pipocam comparações dos prêmios Nobel recebidos, do índice do Pisa que avalia a educação, do Índice de Desenvolvimento Humano – IDH de países desenvolvidos que não foram a Copa do Mundo, tripudiando a exaltação efêmera de sermos o único país com cinco mundiais.

Acredito que já estamos meios cansados dos exemplos vindos de países ditos de primeiro mundo, de forma a aviltar-nos em nossa condição de país subdesenvolvido, como se determinado arquétipo estivesse associado a uma condição socioeconômica superior, sendo este o motivo dessa aridez cívica brasileira que somente floresce em copas do mundo. Fugindo desse senso comum, vou citar a surpresa que tive em estar na Colômbia no dia 7 de agosto, data do reconhecimento de sua independência de Espanha e avistar as fachadas das casas enfeitadas de amarelo, azul e vermelho, bem como bandeiras da pátria em todos os lugares, parecendo muito como o Brasil em dias de jogo de copa do mundo.  Trata-se de um sentimento cívico que não vemos no dia 7 de setembro, como se o dia da libertação do Brasil de Portugal não tivesse relação com o sentimento de sermos realmente uma nação independente. Porém, convenhamos, enquanto a Colômbia, assim como nos demais países que pertenceram à extinta Grã-Colômbia, sua independência foi construída a golpes de espada e tiros de canhão, por aqui houve uma divisão de terras entre a família imperial portuguesa. Parece que estou até escutando o diálogo entre pai e filho: “Ó pá Pedrinho, Napoleão foi para os quintos dos infernos. Tu ficas cá com as terras de Brasil enquanto eu volto para reocupar Portugal antes que tudo vá para as cucuias”.


A tradição brasileira determina que, mesmo antes de sermos batizados, tenhamos um clube designado para torcer, pois, assim como o sobrenome, geralmente herdamos de nossos pais a paixão pelo futebol. No entanto, quando em 2013 a camisa da seleção brasileira invadiu as ruas como vestimenta oficial das manifestações populares, isto em pleno governo de Dilma Rousseff, a esquerda brasileira ainda não associava a caminha da CBF como símbolo da direita. Foi a partir das manifestações pelo impeachment de Dilma Rousseff em 2015 que a esquerda exacerbou ainda mais o discurso do “nós contra eles”, atribuindo o verde amarelo como símbolo dos “golpistas”. É fácil chegar a esta conclusão quando relembramos a copa do mundo em 2014, quando a camisa da seleção não era estigmatizada pela esquerda e uma eventual vitória do Brasil no mundial serviria bem aos propósitos políticos do governo petista, mas faltou combinar isto como a seleção da Alemanha. A verdade que na copa de 2014 não se ouviu falar de celeuma com a camisa da CBF, sendo esta uma discussão que ficou para 2018.

O futebol é uma paixão nacional que une todos os brasileiros e é um patrimônio imaterial para o nosso povo, assim como a caipirinha, o samba e o carnaval. Portanto, lamento profundamente que essa política rasteira, que não é capaz de uma autocrítica, insista na divisão ao invés de unir-se a todos os brasileiros que têm um desejo comum: querer políticos honestos e que os bandidos condenados por corrupção fiquem na cadeia pagando pelos seus crimes.

Reconheço que ainda temos que avançar em fatores que possam nos dar ainda mais orgulho de sermos brasileiros, mas nem por isso vou abandonar minha camisa verde amarela, deixar de torcer pela seleção brasileira, abster-me da caipirinha. Digo ainda que se o Brasil for hexa campeão, vou festejar com bastante samba, porque não é a estupidez da política que irá destruir o que essa nação também tem de melhor: Nossa alegria.

João Lago.

domingo, 27 de maio de 2018

A profecia do fim do mundo


Viralizou na internet um áudio atribuído ao falecido apresentador de TV Marcelo Rezende no qual o mesmo profetizou a greve dos caminhoneiros. Entretanto, assim como as vozes de Silvio Santos, Lula e Gil Gomes, imitar o jeito, os cacoetes e o timbre de voz do apresentador não é um trabalho tão hercúleo. Todavia, como já destacado por este modesto tocador de bumbo, não se deve acreditar em tudo o que circula nas redes sociais, sendo melhor em alguns casos rir despretensiosamente e crer que aquilo está ali para divertir-nos, muito embora muitos levem isso à sério.

Tive a oportunidade de haver atuado na logística de uma multinacional no sudeste do Brasil, tanto na composição de custos logísticos, bem como na distribuição física, além de haver lecionado a disciplina de logística empresarial em alguns centros de ensino universitário. Assim, posso dizer confortavelmente que sendo profecia ou não, a mais reles quiromante, mesmo a mãe margarida, aquela que com os seus sortilégios traz em sete dias o ser amado de volta, poderia ter profetizado uma greve de caminhoneiros que paralisaria o abastecimento do país em tão pouco tempo. Porque o Brasil é uma nação que na década de 70 a base logística foi erguida na tríade: asfalto, pneu e diesel e não seria de estranhar-se que atualmente aproximadamente 66% das mercadorias transportadas no país estejam na carroceria de caminhões (1). Portanto, ao chegar a sua casa, olhe ao redor e será muito provável que quase a totalidade dos bens de consumo de sua residência, em algum momento da cadeia logística, foi transportada por caminhões. Porém, para deixar a situação mais dramática, outro fator que explica porque o país parou nos últimos dias é que, da totalidade da frota de caminhões do país, 60,6% estão nas mãos das empresas e cooperativas, ficando os 39,4% na posse de caminhoneiros autônomos (2). Ou seja, boa parte da movimentação de cargas está na carroceria de caminhões cujos profissionais não estão ligados a nenhuma empresa ou entidade de classe, o que dificulta a identificação de lideranças e explica o porquê de toda a paralisação fosse coordenada, combinada e difundida por meio de mensagens de whatsapp.

A Petrobras não tem obrigação de cuidar de custo operacional de terceiros, mesmo porque a política desastrada de manutenção dos preços dos combustíveis artificialmente congelados no mercado interno, durante os governos petistas aliados à corrupção, deixou a petroleira em estado quase falimentar. Desta forma, a adoção ortodoxa de correção automática dos preços dos combustíveis, a partir da oscilação do barril de petróleo no mercado externo, protegeu o caixa da Petrobras, mas bagunçou com a estrutura de custos do serviço de transporte rodoviário de cargas. Não somente o transportador autônomo foi afetado e as suspeitas de locaute pelas empresas de transporte fazem todo o sentido. Locaute é quando os patrões manipulam e usam o direito de greve dos trabalhadores para atingirem seus fins meramente econômicos empresariais.

Os caminhoneiros autônomos na sua maioria trabalham como terceirizados de empresas de logística que muitas vezes funcionam como agenciadoras de cargas junto a grandes embarcadores, não sendo comum que um caminhoneiro seja contratado diretamente por uma grande indústria. Essa “quarteirização” do serviço, e a pressão sobre custos mais baixos na cadeia logística, acabam por reduzir a margem bruta e o resultado operacional é quase que insuficiente para cobrir todos os gastos necessários para a manutenção do veículo, a sobrevivência do caminhoneiro e de sua família. Considerando que o combustível representa em média 60% dos custos de transporte (3), qualquer aumento no preço desse insumo em períodos tão curtos, e que não possa ser compensado/renegociado no ciclo operacional do serviço, pode representar a inviabilização do transporte autônomo.  Para exemplificar, um caminhoneiro “fecha um frete” em um valor e sai para fazer a entrega, recebendo um adiantamento para iniciar a viagem e ficando para receber o restante quando apresentar o CTRC – Conhecimento de Transporte Rodoviário de Cargas - assinado pelo destinatário. Durante a viagem, o autônomo é surpreendido com o aumento do diesel, que traz um desequilíbrio econômico financeiro do frete. O caminhoneiro faz a entrega e o agenciador estipula um prazo para pagamento, muitas vezes somente depois do embarcador pagar pelo serviço. Nesse lapso temporal, que pode durar mais de 45 dias, suponhamos outro aumento de preço no diesel e o caminhoneiro entra em desespero, pois o frete combinado que ficou ruim agora não fecha a conta. Sendo bastante empático ao caminhoneiro, imaginemos que recebamos o salário hoje e sem aviso prévio os preços dos alimentos sofram dois reajustes seguidos no mês. No mês seguinte, poderíamos correr para o supermercado e fazer compras para garantir um estoque face escalada inflacionária, como bem fizemos antes do Plano Real na época de hiperinflação. Contudo, o caminhoneiro não pode fazer estoque de diesel, tão pouco reivindicar repactuação do frete junto ao agenciador. Assim, o prejuízo recairá sobre o elo mais frágil da cadeia logística.

A política de preço do diesel para veículos de transporte de carga e passageiros, por questão estratégica de interesse nacional, não pode acompanhar o sobe e desce frenético do preço do barril do petróleo do mercado externo, mas não se deve estender esse benefício ao preço da gasolina, nem tão pouco ao preço do diesel destinado aos luxuosos pick-ups de passeio. As nações desenvolvidas desestimulam o transporte individual e privilegiam o transporte público de massa, sendo justamente o contrário da realidade brasileira. Transportes públicos de péssima qualidade empurram o cidadão ao desejo de possuir automóvel e o consumidor brasileiro faz a alegria das montadoras estrangeiras, cujas margens de lucro é três vezes maiores no Brasil que nos países sede de suas origens (4). Portanto, por mais que seja desagradável o sobe e desce dos preços da gasolina nos postos, o abastecimento dos veículos de passeio não deve ser prioritário. Talvez os altos preços da gasolina possam ser uma medida pedagógica para que o cidadão de classe média efetivamente possa exigir um transporte público de qualidade e deixe de considerar o ônibus (e demais meios de transporte de massa) como feito para transportar pobre.

O movimento paredista dos caminhoneiros que paralisou o Brasil não é um assunto que se resume a política de preços da Petrobras, ou mesmo a elevada carga tributária que incide sobre os combustíveis, mas um problema econômico, político e social que se inicia com a decisão do que é prioritário para o crescimento e o bem estar desta nação. O primeiro passo a ser dado é decidir se queremos gasolina barata com um padrão de vida venezuelano, ou gasolina oscilando ao sabor do preço do petróleo no mercado internacional, mas com padrão de vida e de transporte público holandês. Sinceramente, conhecendo um pouco a alma do brasileiro, acho que não serei profético em dizer qual das duas alternativas o brasileiro médio aceitaria com mais naturalidade.

João Lago.

1. ANUT – Associação Nacional dos Usuários do Transporte de Carga, Anais da Audiência Pública na Câmara dos Deputados sobre marco regulatório do transporte rodoviário de caras, 2016;
2. Anuário Estatístico de Transporte 2010-2016, Ministério dos Transportes, Portos e Aviação Civil, 2017;
3. Planilha de custos de transporte rodoviário elaborada pelo autor;
4. Brazil – home to the world’s most expensive cars. Automotive Word, 2011.