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terça-feira, 29 de julho de 2014

A Política do Continuísmo Descontinuado



Eu tenho acompanhado pelo rádio, TV, jornal, internet, sempre que posso as entrevistas nas quais candidatos ao governo dizem por que desejam o voto do eleitor. É bem verdade que alguns desses candidatos já tiveram (ou ainda tem) na mão a caneta de chefe do executivo estadual e outros acalentam o sonho de possuí-la pela primeira vez. No entanto, antes de aprofundar-me na síntese de uma análise do discurso que é comum entre todos, gostaria de contar a estória a seguir.

Um homem decidiu morar no campo com sua família e viver da terra. Eventualmente o que era gerado de excedente, a família comercializava na feira da cidade e o dinheiro amealhado era utilizado na manutenção da própria casa, como pintura, troca de telhas e demais reparos necessários em sua casa. Com o passar do tempo, o excedente também passou a ser utilizado na compra de bens de consumo para o conforto da família. Os filhos do fazendeiro cresciam e aquela família já não precisava de tantos móveis e objetos e o dinheiro excedente começou a abastecer uma pequena poupança.

Os filhos do fazendeiro ajudavam o pai na lavoura sem abdicar de estudar na excelente escola rural que existia nas proximidades, principalmente porque aquela escola era um colégio agrícola, ou seja, desde as séries mais elementares o projeto de ensino era voltado para a realidade daquelas crianças. Assim, era comum os filhos conversarem com o pai sobre técnicas aprendidas na escola que poderiam melhorar o trabalho no campo, que eram prontamente implementadas com o dinheiro poupado. Logicamente, o fazendeiro pai sabia que sua família só iria prosperar se o trabalho iniciado por ele tivesse continuidade em seus filhos, pois era essa a atividade que os sustentava.

Voltando para o início do texto, utilizando a estória acima como pano de fundo, não encontro no discurso daqueles candidatos, que tiveram a oportunidade de ter a caneta na mão, o sentimento de continuidade necessário para alcançar um objetivo. Tudo parece indicar que governaram para si, sem a preocupação de deixar um rumo, uma direção que tacitamente pela inércia incontestável de um projeto político de estado (não de governo) pudessem com o tempo trazer melhorias para as próximas gerações. Faltou nesses candidatos o desprendimento do poder, pois opostos ao fazendeiro, não souberam dividir e conduzir seus seguidores a uma boa escola que pudesse edificar o espírito público. Seus correligionários não foram matriculados no ensino ético, tão pouco aprenderam o quanto é importante a continuidade de projetos de estado. Isto significa que não temos um resultado prático de melhoria na educação, saúde, transporte e segurança pública. Cada governo que se sucedeu trouxe o imediatismo do governante, a construir hospitais e batizá-los com o nome das respectivas progenitoras, que só funcionam bem no momento da inauguração, para depois carecerem de manutenção, falta de equipamentos, insumos e médicos. Parques, praças, escolas e áreas públicas são esquecidas, simplesmente porque foram construídas pelo predecessor. Aquele projeto de segurança exitoso não continua porque as viaturas quando não estão quebradas estão sem combustível. Projetos são abandonados com tamanha desfaçatez, pois dar continuidade seria como glorificar o antecessor e isto é um pecado para o projeto político individual de cada um.

Imaginemos que o fazendeiro da estória não tivesse encaminhado seus filhos para a escola, como poderiam contribuir com ideias inovadoras? Se o fazendeiro não tivesse a preocupação de dar manutenção sistemática em sua casa, ou mesmo de equipá-la de modo confortável, como estaria sua família agora? Ora, bem poderia ter aproveitado o dinheiro excedente para curtir com as raparigas da cidade, comprar roupas de grife, dar festas para os amigos e ostentar.

Compreender a situação presente da família do fazendeiro só é possível a partir da análise de suas ações passadas. Assim, também não podemos ignorar as ações passadas desses políticos para a compreensão de nosso presente, principalmente quando um mesmo grupo governa durante tanto tempo um mesmo estado, pois já não deveriam prometer o que já haviam prometido anteriormente, neste andar em círculos na qual a única coisa que prospera é a fortuna pessoal de cada um.

Devemos cobrar, acima de tudo, o fracasso e o abandono de tantos projetos ao longo do tempo, pois é inegável o desperdício de dinheiro público e não adianta dizer que foram os outros que falharam, quando esses saíram de sua própria casa. Criticar e dizer simplesmente que a casa está podre é ignorar que foram esses mesmos que construíram a podridão.

João Lago
Administrador, professor e morador do Conjunto Santos Dumont

domingo, 13 de julho de 2014

Área verde invadida com materiais de construção

Cada dia que passa novas mazelas vão se somando ao imenso descalabro e abandono que passa o nosso Conjunto Santos Dumont.

Como se não bastasse as grades de proteção do campo terem sido derrubadas e subtraídas depois de meses ao relento; dos fogos de artifício na madrugada, demonstrando total desrespeito com o sossego público durante um festival em que nós moradores não sabemos quem se favorece financeiramente com o mesmo (por favor nos digam quando é que vão apresentar uma prestação de contas disto); da imensa retirada de terra e grama, em um crime ambiental que derrubou árvores para ficar no local um imenso buraco ao lado de nosso chapéu de palha; do lixo acumulado nas áreas verdes; da constante presença de ambulantes em nossa praça de caminhada que nossa atuação diligente tenta mantê-los afastados; do descaso que se tem com a 1a. (Rua Cmte. Nathanael Albuquerque), com carro de lanche permanentemente instalado sobre a área verde, restos de material de construção na praça e carros estacionados sobre a grama; tudo isto já não era o bastante.

A última ação que se soma a esse rol de despautérios é a ocupação de nossa área verde por "carradas" de  areia e seixo que não sabemos se é para construção de algo naquele local (que seria um duplo crime ambiental), ou alguém está usando aquele espaço de preservação como depósito de materiais.

Ao invés de ficar fazendo "politicagem", certos sujeitos que se intitulam "líder comunitários", deveriam começar a andar pelas ruas de nosso conjunto, ou fica parecendo que sequer moram por aqui, ou quando ameaçam a fazer algo, saí tudo atabalhoado, pela metade, ou totalmente contrário ao que pensa e deseja nossa comunidade.

Enquanto isso, não iremos nos acomodar e continuaremos denunciando o descaso que tomou conta de nosso Conjunto Santos Dumont.

Amipaz.

sexta-feira, 11 de julho de 2014

Seleção brasileira: “Para barco sem direção, não existe vento favorável”

Um amigo mineiro, de uma infância pobre em Teófilo Otoni-MG, que jamais esquentou os bancos de uma universidade, certa vez disse-me que antes de conseguir sucesso empresarial em revenda de veículos teve que ir à falência algumas vezes. Neste mesmo raciocínio, em Brasília quando era consultor do Sebrae, conheci a empresária Heloísa Assis (Zica) em uma palestra sobre empreendedorismo que nos contou como inconformada com o seu cabelo crespo, resolveu misturar diversos produtos em uma alquimia particular até chegar a uma fórmula que pudesse relaxar suas madeixas pixaim. A busca dessa fórmula perfeita durou dez anos e nesse período queimou o próprio couro cabeludo e também queimou os cabelos de parentes. Quando finalmente conseguiu o seu objetivo e cativando o interesse de conhecidos para ter um cabelo igual, Zica percebeu que poderia lucrar com a fórmula e fundou o salão Beleza Natural (no morro do Catambri, Tijuca-RJ). Em 2013 a Beleza Natural faturou R$ 180 milhões e vendeu 33% das ações de seu negócio por R$ 70 milhões ao grupo GP Investimentos. As histórias de empreendedorismo de meu amigo mineiro e de Zica se cruzam em três pontos: (1) Uma infância pobre; (2) Persistência para não desistir; (3) Empirismo sistemático até o sucesso.

Nessas duas histórias é certo que a característica mais importante é a perseverança, pois sem ela teriam desistido na primeira adversidade e não teriam apreendido com os próprios erros. No entanto, haveria a possibilidade de terem obtido sucesso em menos tempo, se juntamente com essa persistência Heloísa tivesse estudado química e meu amigo mineiro tivesse passado por uma escola de negócios, haja vista que ambos já eram empreendedores natos. Porém, ao verem seus negócios crescerem, foram abandonando o empirismo e passando a buscar ajuda em sofisticadas ferramentas de gestão, buscando apoio em consultorias e principalmente investindo em planejamento. Sem planejamento não é possível criar condições favoráveis para pisar em solo firme, ou plagiando Sêneca: “Para barco sem direção, não existe vento favorável”. Planejar economiza tempo, dinheiro, melhora a gestão quando estabelecidas em objetivos e metas.

A seleção da Alemanha, que nos impingiu a maior humilhação desde 1950, é um exemplo como o empirismo, mesmo nos esportes, já não faz sucesso mesmo com ventos favoráveis, pois ter bons jogadores já não é o suficiente, sendo necessário planejar. Iniciaram sua participação em solo brasileiro em dezembro do ano passado, quando começaram a construir seu Centro de Treinamento – CT na Vila de Santo André, litoral baiano, apenas 30 km do aeroporto de Porto Seguro. O CT e composto de um campo de futebol, um centro de imprensa e de treze casas, em um total de 65 quartos confortáveis, criando uma atmosfera de uma vila sossegada, muito distante dos grandes e congestionados centros urbanos. Porém, a escolha do local não foi aleatória, mas estrategicamente planejada e logisticamente adequada às locações das primeiras partidas da seleção alemã que ocorreram no nordeste. Ao final, todo o complexo será colocado à venda, pois na verdade trata-se de um projeto imobiliário de alto padrão.

Não é somente na escolha de construir seu próprio CT que a Federação Alemã de Futebol surpreende, mas com o uso da tecnologia para alcançar melhores resultados. Com a parceria que firmou com a SAP, empresa mundialmente conhecida por seus aplicativos de gestão integrada, foi desenvolvido um software que analisa com riqueza de detalhes o desempenho de cada um dos seus atletas nos treinamentos e nas partidas, bem como analisa seus adversários. Logicamente a partir da análise das deficiências é possível planejar melhorias, assim como aprimorar estratégias para atingir os melhores resultados. O mais importante neste software é que a informação não é exclusiva da equipe técnica, mas difundida entre todos os jogadores que as recebem em seus dispositivos móveis (tablets, smart phones etc.). No jogo contra o Brasil, por exemplo, o técnico Joachim Löw determinou que se atacasse a seleção brasileira com velocidade, pois o aplicativo já havia sinalizado que nossa zaga tinha dificuldade em recompor-se em ataques rápidos. O software mapeou os pontos fracos do Brasil e permitiu a equipe alemã planejasse estratégias para vencer o jogo.

Se a equipe alemã é um espelho de planejamento, a composição de nossa seleção foi baseada no empirismo, a começar pelas convocações com inúmeras tentativas de erros e acertos desde a era Mano Menezes, quando se fez a opção por uma renovação radical. Da seleção base de 2010 (do técnico Dunga) restaram apenas Júlio César, Thiago Silva e Ramires que ficaram para 2014, e nomes como Ronaldinho Gaúcho, Kaká, Ganso, Robinho e Pato passaram e não prosperaram com Felipe Scolari. Enquanto isso a seleção alemã manteve o seu técnico, assim como oito jogadores de sua seleção que foi terceira colocada em 2010. Jogadores como Schweinsteiger, Klose, Podolski, Kroos, Khedira, Neuer e Phillip Lahm trouxeram sua experiência de copas passadas e agora estão as portas dos píncaros da glória. Absolutamente não desejo aqui dizer que o Dunga devia ter sido mantido como técnico, mesmo porque sua estreia como técnico ocorreu na seleção brasileira, em uma aventura de Ricardo Teixeira (ex-presidente da CBF). O que desejo apontar aqui é a desorganização e a falta investimento em planejamento estratégico na maior paixão do povo brasileiro que é a sua seleção nacional.

Em relação a seleção da Argentina, não vou entrar em maiores detalhes, mas a exceção do técnico Maradona, praticamente a seleção de 2010 é a base desta seleção atual, com sete jogadores daquela época (Messi, Mascherano, Di Maria, Aguero, Higuain, Romero e Maxi Rodriguez), mas que já foram fregueses dessa Alemanha, quando foram eliminados na última copa por 4 a 0 nas quartas de final. Assim, o jogo do domingo terá um significado especial, pois o histórico conspira para que a seleção germânica seja a grande vencedora desta copa, mas os argentinos estão motivados e Messi até já cantou a “musiquinha” infame que a torcida portenha trouxe para o Brasil para gerar provocações entre os brasileiros. Não arrisco dizer quem será campeão, mas torço para que os argentinos voltem para casa chupando o dedo.

Quanto à seleção brasileira, nesta aventura que foi trazer para o Brasil uma copa do mundo, com todas as deficiências em planejamento e atrasos para entregar as obras necessárias para o evento, tudo isto contribuiu para a decepção do povo brasileiro e a falta de planejamento também se refletiu na formação de um elenco fraco e muito abaixo da altura do espetáculo. O fracasso da seleção brasileira é um exemplo de como é importante planejar para se ter sucesso, inclusive no futebol.

João Lago
Administrador, professor, torcedor e morador do Conjunto Santos Dumont

terça-feira, 1 de julho de 2014

Entrevista com Marcelo Ramos (PSB - AM), candidato ao governo do Estado do Amazonas

No último dia 17 de junho, o candidato ao governo do Amazonas Marcelo Ramos (PSB-AM) nos recebeu em seu gabinete na Assembleia Legislativa e nos concedeu esta entrevista exclusiva ao nosso blog.

Marcelo Ramos é Deputado Estadual pelo PSB e foi vereador em Manaus. Advogado formado pela Universidade Federal do Amazonas, pós-graduado em Direito Processual Civil. Professor de Direito do Trabalho e Direito Civil, tem 40 anos, é casado com Juliana Monteiro Maranhão Ramos Rodrigues e tem dois fihos:  Gabriel Jucá Ramos Rodrigues (17 anos) e Marcela Maranhão Ramos Rodrigues (1 ano).

Os temas abordados foram as promessas de campanha de políticos, plano de governo, desenvolvimento regional, Zona Franca de Manaus e preservação ambiental. Confira nossa entrevista:

Amipaz - Em uma análise dos últimos pleitos ocorridos em nossa cidade, existe um fenômeno do candidato fazer promessas, mas após eleito não vincular sua ação de governo ao que foi prometido durante a campanha. Pergunto: O senhor identifica esse fenômeno à impossibilidade de execução das promessas porque tem que barganhar apoio do parlamento, ou isto é simplesmente uma crença dos políticos que o brasileiro tem memória curta?

Marcelo Ramos - Esse é um aspecto importante das eleições. Ninguém faz campanha dizendo que vai fazer obra superfaturada, que vai encher o governo de apadrinhados, que vai dirigir licitações. Ninguém nunca fez campanha dizendo que ia pagar mal aos professores, que ia deixar pacientes sem remédio ou sem cirurgias. Todos apresentam bons planos de governo, em regra, os candidatos mais poderosos apresentam planos muito bem elaborados por técnicos pagos a peso de ouro. A questão é saber se a conduta do candidato é coerente com o que ele prega. No sistema brasileiro e, em especial no Amazonas, há uma concentração enorme de poder no Executivo, portanto, o parlamento não tem força para impedir a execução de um programa de governo. Candidato que não honra o que prometeu na campanha é porque nunca teve compromisso com o que falou ao povo.

Amipaz - O senhor já tem um plano de governo definido que possa apresentar a sociedade amazonense? Quais serão os principais pontos estratégicos definidos para o desenvolvimento regional, principalmente para o desenvolvimento do interior do estado do Amazonas?
 
Marcelo Ramos - Temos um Plano de Governo construído sobre 3 pilares: transparência, participação popular e eficiência administrativa. Partido dessas premissas estabelecemos  5 pactos prioritários. PACTO DA EDUCAÇÃO, com investimento no salário e na carreira dos professores, formação continuada e programas de assistência estudantil, objetivando melhorar os índices PISA em português e matemática (somos o penúltimo nas duas disciplinas) e o IDH-Educação (somos o 6º pior do país, segundo o CENSO 2010). PACTO DA SAÚDE, criar Carreira Médica de Estado com ingresso começando pelo interior, criar Centros de Média Complexidade nas cidades pólo por calha de rio, valorizar os profissionais de saúde e acabar com a farra das terceirizações nos serviços de saúde. PACTO DA SEGURANÇA, criar um programa transversal de defesa da vida, visando diminuir o alarmante índice de 36 homicídios por 100 mil habitantes (eram 16 em 2004), resgatar a essência do Programa de Polícia Comunitária Ronda no Bairro resgatando os laços da polícia com a comunidade, valorizar os praças da PM que atuam diretamente no combate ao crime. PACTO DA INFRAESTRUTURA, canalizar investimentos públicos e induzir investimentos privados para construção de portos, hidrovias, rodovias, soluções de energia e telecomunicações, afim de tornar a PIM competitivo mesmo num ambiente de redução dos incentivos fiscais. PACTO DO INTERIOR, fomentar uma nova matriz econômica identificada com as nossas vocações naturais, investindo em pesquisa, ciência e tecnologia para desenvolver a bioindústria de produtos da floresta, com a construção de pequenos parques industriais nas cidades do interior, estimular o setor primário com investimento em regularização fundiária, agilização de planos de manejo, fomento e assistência técnica, além de um programa de recuperação e manutenção de vicinais.

Amipaz -  A Câmara dos Deputados aprovou, no dia 4 deste mês, em segundo turno,a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 103/10 que prorroga, por 50 anos, a Zona Franca de Manaus (ZFM). A ZFM tem exatamente a minha idade (47 anos) e nesse tempo todo não surgiu outro modelo de desenvolvimento regional que favorecesse principalmente o interior. Como o senhor vê essa nossa dependência da ZFM e como poderemos diminuí-la nos próximos 50 anos se a mesma for ratificada no senado federal?

Marcelo Ramos - Não só não surgiu outra alternativa, como, apesar da riqueza gerada pela ZFM, não foi construída a infraestrutura necessária para que o modelo fosse competitivo mesmo num mundo globalizando e num ambiente de maior competividade e menores incentivos fiscais. Por isso, criar infraestrutura logística para o PIM e desenvolver a bioindústria e o setor primário será obsessão do nosso governo.

Amipaz - Há muito se pleiteia o asfaltamento da BR 319 que ligaria Manaus a Porto Velho, trazendo uma ligação rodoviária com o Sudeste do país. No entanto, assim como ocorreu na Sul do Pará, com a BR 158 no trecho entre Redenção e Santana do Araguaia onde o desmatamento é visível por imagens de satélite ao longo da rodovia, teme-se que idêntico desmatamento aconteça com o Sul do Amazonas. Qual seria, na sua opinião, o melhor modal que pudesse conciliar a necessária ligação do Amazonas com os grandes centros de consumo?

Marcelo Ramos - Penso que do ponto de vista econômico o modal hidroviário é o mais importante para o Amazonas. No entanto, o modal rodoviário e, em especial, a BR 319 tem papel completar do ponto de vista econômico e, acima de tudo, papel de integração nacional. Portanto, lutaremos para que todos os condicionantes econômicos, sociais e ambientais sejam cumpridos e a rodovia seja recuperada. Tenho certeza que nenhum ambientalista seria contra recuperar BR garantindo sustentabilidade econômica, social e ambiental, assim como, nenhum desenvolvimentista sério seria a favor da recuperação sem essas garantias.

Amipaz - A grande decepção do Manauara com a Copa do Mundo foi que as melhorias prometidas não foram cumpridas, principalmente na questão da mobilidade urbana. Em nossa análise o grande problema para a instalação do Sistema BRT é a falta de vias largas que possam acomodar o sistema, pois o crescimento desordenado da cidade criou bolsões de ruas estreitas que necessariamente para implantá-lo haveria necessidade de uma grande intervenção com desocupações e indenizações, talvez a um mesmo custo orçamentário de um Prosamim. Na sua opinião, qual seria a melhor alternativa para mobilidade urbana em Manaus?

Marcelo Ramos - Primeiro é importante ter clareza que não existe solução para a mobilidade urbana insistindo no transporte individual motorizado. É preciso investimento em transporte coletivo e em modais não motorizados como a bicicleta, com a construção de ciclovias, ciclofaixas e ciclorotas, e mesmo a caminhada, recuperando calçadas e arborizando a cidade. No transporte coletivo não enxergo outra alternativa viável do ponto de vista econômico que não seja o BRT, com a construção de corredores exclusivos e sinalização inteligente para aumentar a velocidade média da frota. O governo teve a sua disposição R$ 1,8 bilhão de reais para mobilidade urbana em Manaus e, com esse valor, poderia ter estruturado um grande anel viário de BRT, com desapropriação e alargamento de vias em pontos críticos, mas insistiu na aventura do monotrilho e acabou não fazendo nada.