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domingo, 22 de julho de 2012

A busca de valores válidos


Existe na Bíblia uma história que é realmente fascinante. É o chamado ciclo de Elias (1 Rs 17-2 Rs 2). São páginas de enorme atualidade. Elias foi um homem enviado por Deus para enfrentar as mazelas de um rei que se afastara e tentava afastar o povo dos caminhos traçados nos livros da Lei. Era rei Acab que se casara com Jezabel, uma princesa fenícia e adoradora de um deus chamado Baal. Por influência da rainha, o rei incentivou o culta àquela divindade fenícia e cometeu vários crimes. Um deles foi o assassinato de Nabot, que se recusara a vender a sua vinha ao monarca.

Elias sentiu-se sozinho e pequeno para reconduzir os transviados, mas teve coragem. Jogou na cara do rei as maldades cometidas e prenunciou o final daquela série de loucuras. O Monte Carmelo foi o lugar de referência de sua vida e da resistência ao regime autoritário. O Monte Horeb, onde se refugiou quando perseguido, foi o lugar onde Deus se revelou não como o Deus do barulho, mas do silêncio e da paz. De Elias escreveu Ben Sirac: "o profeta Elias surgiu como fogo, e sua palavra queimava como fogo". (Eclo 48,1). Diz o texto bíblico que ele foi arrebatado ao céu em um carro de fogo. Acreditava-se que ele voltaria antes da chegada do Messias.

Vivemos tempos marcados pela maravilha de avanços científicos e técnicos extraordinários. Nunca se conseguiu tão intimamente os segredos da natureza e viver com tanto bem estar. A cada dia somos surpreendidos por novidades e incentivados a comprar objetos de sonhos. Entretanto, vivemos em uma sociedade contraditória. O progresso trouxe felicidades e trouxe desgraças. Os momentos em que estamos revestem-se de muita confusão.

As relações humanas paracem vasilhas de água turva. Observa-se isso especialmente na aceitação de valores éticos e morais: - O que é certo e o que é errado? Falta até a pessoas de boa fé, ou de bom senso, descobrir quais valores são eternos e quais podem desaparecer. Essa confusão trouxe, traz e trará problemas para a coexistência pacífica dentro da sociedade.

A atitude de quem tem ideias esclarecidas levará a agir como Elias na defesa dos valores eternos e só dos valores eternos.

D. Luiz Soares Vieira
Arcebispo de Manaus

quinta-feira, 19 de julho de 2012

Confissão de uma caboquice

O termo “caboquice” aqui em Manaus é usado para descrever pavulagem de “caboco”. O termo não tem o mesmo significado de “cabloco”, que está no dicionário como mestiço de branco com índio, mas é uma derivação pejorativa que pode descrever no substantivo o indivíduo nativo manauara de pouca educação e instrução. Já o adjetivo traduz-se desde a falta de compostura até o mal gosto.
O “caboco” é cheio de “leseira”, ou, como queiram, repleto de “caboquice”, mas em uma análise não semântica sobre o que é considerado “caboquice”, vejo que será chamado de “caboco” aquele indivíduo que viola o padrão estético de aceitação de uma minoria, que se utiliza da criação de rótulos para destilar seu preconceito.

Vamos a um exemplo prático e imaginar um “caboco” com um telefone pendurado no pescoço em plena rua Marechal Deodoro (rua central de Manaus), conhecida como “bate-palma” devido ao grande número de vendedores que ficam do lado de fora das lojas a bater palmas chamando os fregueses a entrar. Será o telefone pendurado no pescoço um exemplo de “caboquice”?

Antes de responder, veja a imagem abaixo e diga sinceramente se é, ou não é, coisa de “caboco”. Trata-se de um fone para celular que imita um telefone antigo. No entanto, antes que concorde em chamar o acessório de “caboquice” e pense que tirei esta foto na rua do bate palmas aqui em Manaus, o sujeito em questão é o cantor Lenny Kravitz que atende ao seu celular em uma rua de Manhattan em Nova Iorque. Se não sabes quem é Lenny Kravitz, provavelmente já deves ter ouvido falar de uma das inúmeras beldades que já namoraram o rapaz, dentre elas: Nicole Kidman, Madonna e Penélope Cruz.












Porém, não foi somente Lenny Kravitz que foi visto com este fone retrô pelas ruas da cidade. Também carregam o seu por aí Jamie Lee Courtis, Sarah Jessica Parker (de Sex and City), Daniel Craig (James Bond), incluindo os tupiniquins Carol Castro, Narcisa Tamborindeguy e por aí vai.
É, talvez após tantas referências a respeito da beleza e da utilidade do produto alguns novos adeptos da moda se arvorem a sair correndo encomendar o seu.

Eu mesmo às vezes me dou a certas “caboquices”. Por exemplo, quem me conhece um pouquinho mais sabe que gosto muito de correr e que isto é um hábito que carrego há alguns anos. Certa vez, querendo aproveitar o sol de verão na capital mineira, coloquei um par de tênis e uma sunga e fui correr ao redor da lagoa da Pampulha. Para mim uma combinação perfeita: Um grande espelho d'água, o mormaço, correr com o vento no rosto e no corpo. No entanto, minha ousadia foi saudada com várias palavras de incentivo gritadas pela janelas dos carros que passavam por mim, as quais minha educação não permite aqui colocá-las. Segui em frente, não dando ouvidos as críticas, completando o meu percurso.

Pavulagem e “caboquices” a parte, tudo depende muito de quem as comete.

Eita povinho besta!

João Lago
Administrador, professor e ativista social

quinta-feira, 5 de julho de 2012

A “PARTÍCULA DE DEUS” e o CORINTHIANS

Ontem, 4 de julho de 2012, o Corinthians ganhou pela primeira vez a Copa Libertadores de América, e também foi anunciado pelos cientistas do CERN que, ao fim de 50 anos de investigação, se descobriu uma partícula nova que pode ser o bóson de Higgs, popularmente conhecida como “partícula de Deus”.
 
Esta partícula seria a chave para explicar a origem da massa das outras partículas elementares, ou seja, a origem de toda a matéria que compõe o Universo. Mas o que tem a ver a conquista do Corinthians com a “partícula de Deus”? Nada muito a ver. Até porque o Corinthians esperou 101 anos para ganhar este título, o dobro das pesquisas feitas para se chegar à partícula.
Por um lado, as coisas da Física; por outro, as coisas do futebol; dois temas que me apaixonam. Se pelo lado da Física impressiona a persistência dos cientistas em encontrar a tal partícula; impressiona-me, de igual maneira, os “Locos” pela conquista da Libertadores.
 

Infográfico Bóson de Higgs (Foto: Arte/G1)
Fonte: http://www.g1.globo.com
No dia 1º de setembro de 1910 um grupo de cinco operários do bairro paulistano do Bom Retiro, sob a luz de um lampião, às oito e meia da noite, decidiram criar um novo time de futebol, e vinte pessoas que contribuíram com 20 mil Réis, também foram considerados sócio-fundadores. Operários têm o poder da criação, fruto do trabalho. Assim imagino Deus no momento da criação do Universo: De posse da sua “partícula” montando o Universo. Como um operário da construção civil sentando tijolos no tempo e no espaço de si mesmo.
 

Partícula, tempo e espaço, são a matéria prima que emana de Deus, são partes integrantes de um todo dinâmico e dialético, como deve ser o logos de Deus. Mas não quero aqui transformar meu discurso em tema teológico, mas filosófico, ou melhor, uma reflexão FILOSOFÍSICA sobre o desdobro da realidade. É por isso que creio que concomitante as preocupações com a busca do bóson de Higgs ou “partícula de Deus", deve-se buscar o “logos” de Deus, a razão ou as razões de Deus na própria essência e natureza do Cosmos. 

Buscando à Deus, tudo ficará mais claro, na física, na filosofia e na vida de todos. Mas, devo deixar bem claro que Deus não tem nada de ético, desejo, vontade ou quaisquer outros padrões sentimentais e culturais humanos, Deus não torce por nenhum time. Mas cuidado, o diabo está dentro das igrejas, transformando a máxima humana de “amar uns aos outros” em palavras vazias e carente de significados.
 

Parabéns aos Corinthianos.

João Soares Pinheiro Neto
Filósofo e professor

terça-feira, 3 de julho de 2012

Minhas roupas usadas

Há pouco estive em um casamento, que no início relutei um pouco em ir, pelo fato de ter que sair de casa em um final de domingo e, por um motivo mais prosaíco, de ter que vestir-me para uma cerimônia que se pede certa pompa.

Ao procurar o que vestir, notei que sou muito o que reflete minhas roupas penduradas no cabide e dentro de minhas gavetas. Primeiro, percebi que tenho peças que visto há bastante tempo, assim como algumas ideias que me acompanham há longos anos. Ainda que não as use com frequência, sei que ali estão sempre prontas para me vestir quando necessário.

Ao remexer mais um pouco as gavetas, encontro peças já puídas, bem desgastadas, mas que são muito confortáveis de usar, assim como algumas concepções de vida que se sustentam apesar de ouvir que estão fora de moda, ou em desuso. Não ligo porque as visto para mim, não para agradar os outros.

Por final, em lugar de destaque, tem aquelas que são do dia-a-dia, com as quais sou visto com certa assiduidade e que refletem muito o meu jeito de ser, ou como prefere alguns, revelam meu estilo de vida característico. Um detalhe pode ser percebido logo de cara, elas não possuem identificação de propriedade de nenhuma grife, ou qualquer emblema, ou sinal que identifique que valem mais do que a pessoa que a usa. Não que isto seja um sinal de arrogância de minha parte, apenas refletem que, assim como minhas ideias, minhas roupas não foram concebidas por outros para que eu as utilize como peças de um troféu. Isto indica que valorizo o que visto pela forma que se moldam em meu corpo, não porque ostentam um valor artificial que só tem sentido para aqueles que identificam como peça de grife.

Acabei escolhendo vestir-me para esse casamento com minhas ideias de longo anos. Os noivos, em detalhe especial, casaram na igreja, como direito a ave Maria na entrada da noiva e tinham mais de sessenta anos. Ela viúva há mais de dez anos, reencontra o primeiro namorado, também viúvo, e ambos decidem reatar o que perderam revelando que o amor é capaz de esperar e reviver mesmo quando o senso comum diz que deveria ser esquecido.

O amor, sempre o amor.

João Lago
Administrador, ativista social e professor


AS CINCO PÉTALAS DO AMOR.........................................

Uma vez no horizonte abriu-se em cinco pétalas
e cada uma representava um sentido da vida

A primeira era verde como a cor da esperança
pois há muito tempo os olhares se perdiam no vazio

A segunda era vermelha como a cor da paixão
pois não havia mais no coração do homem o ardor

A terceira era branca como o puro mármore
pois representava a paz perdida em meio a multidão

A quarta era amarela como ouro bruto e inculto
pois aquele homem não merecia se cobrir de riquezas

A quinta era negra como a escuridão da noite
pois de olhos fechados é que podemos refletir

Não há horizonte que não se cubra de luz e de escuridão.

Não existe amor que não se mostre insensato e passional.

Não se explica com palavras aquilo se sente no íntimo.

Ouça apenas o coração

Veja o brilho que tenho nos meus olhos

Apenas deixe-me amar em silêncio.

domingo, 1 de julho de 2012

Tradições que devem ser conservadas

No dia 29 de Junho, sexta-feira passada, como fazemos todo o ano, realizamos a procissão de São Pedro. A parte que acontece por terra e na qual o andor com o quadro do santo é levado nos ombros dos fiéis, teve seu itinerário mudado devido à cheia do Rio Negro e a mudança do trânsito no centro da cidade.

Desta vez saímos da igreja de Educandos e nos dirigimos a beira do rio (Negro) onde iniciamos a parte fluvial do ato religioso. Em várias embarcações, subimos o rio até a Ponta do Ismael e o descemos até a feira da Panair. Depois, a pé, levamos o quadro até o terreno que fica em frente da Igreja Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, Educando, onde houve a Missa Campal. Mais uma vez a tradição bateu em nossos corações. Lembrei-me de um trecho do livro de Saint-Exupery, "O Pequeno Príncipe" quando o menino vindo do outro planeta diz: "Eis o meu segredo. É muito simples: Não se vê senão com os olhos do coração. O essencial é invisível aos olhos". E continua o escritor: "O essencial é invisível aos olhos", repete o pequeno príncipe para lembrar-se".

O que significou aquela multidão de pessoas caminhando ou navegando atrás de um quadro que representa um homem idoso? Evidente que Pedro não é Deus nem dever adorado como tal. Por que essa manifestação cheia de ternura e fé? Entre os participantes encontravam-se pescadores e suas famílias. Os olhos dos corações desses homens e mulheres faziam-nos voltar para Simão Pedro, que viveu há quase dois mil anos, que se encontrou com Jesus, que foi por Ele chamado a deixar as redes e ser pescador de almas.

Os olhos do coração descobrem naquele galileu uma pessoa do povo, homem casado, trabalhador, cheio de qualidades e tomado por alguns defeitos, muito parecido conosco, generoso e fraco, em quem o amor venceu os pecados. O escrito russo Dostoiévski escreveu que a beleza salvará o mundo. Não se pode negar que o Rio Negro com aqueles barcos todos em procissão é um cenário deslumbrante. Em ocasiões como essa, sente-se a presença de Deus.

É urgente que conservemos as boas tradições que nos ligam a nossas raízes culturais e revelam a beleza que salva.

Dom Luiz Soares Vieira
Arcebispo de Manaus